A origem do Café no Ceará

O Capitão-Mor José de Xerez Furna Uchôa era de nobre descendência portuguesa, moradores das terras brasileiras desde 1550. Após o falecimento de seu pai, José de Xerez vem com sua mãe para o Ceará, indo fixar residência na ribeira do Acaraú. Morrendo sua mãe, foi morar em Sobral, passando a maior parte do tempo em seu sítio na serra da Meruoca, onde construiu um engenho de cana de açúcar, casa de farinha e uma casa para moradia. Na frente da casa havia um grande terreiro onde ninguém podia passar a cavalo e deveria se o chapéu para poder entrar na casa.

Era muito zeloso com seus títulos de nobreza, ao ponto de não querer como genros pessoas da elite sobralense como o Capitão-Mor Manoel José do Monte e o Capitão Antônio Alves de Hollanda Cavalcanti, que para se casarem com suas filhas, tiveram que sequestra-las.

José de Xerez Furna era uma pessoa caridosa, protetor dos pobres, pois não os deixava oprimir injustamente, jamais infringia a lei, trabalhador incansável no serviço público, foi juiz ordinário, juiz de órfãos, vereados e Capitão-Mor, funções das quais jamais recebeu nenhuma remuneração, homem de uma só palavra, o que lhe custou muito no futuro, tudo isso fazia dele um cidadão querido e respeitado.

Nutrindo o desejo profundo de conhecer de perto os esplendores da corte da França, partiu de Lisboa recomendado pelos mais altos nobres da corte Portuguesa. Naquele país foi honrosamente apresentado à corte de Versailles, onde ganhou a simpatia do Duque de Choiseul. O Duque possuía um belo jardim, e o Capitão- Mor Xerez ganhou duas mudas de uma planta existente nesse jardim, dessas duas mudas, uma morreu na longa travessia de volta ao Brasil, e a outra, entre 1747 e 1748, foi plantada no sitio de Xerex, na serra da Meruoca, essa planta, foi o primeiro pé de café plantado no Ceará e o pai de todos os cafezais do estado.

Mas não foi só o café que Xerez importou para o Brasil, trouxe também, de sua viagem a Europa, a mangueira, o tamarineiro, a parreira e outras árvores frutíferas que pouco a pouco foi espalhando mudas e sementes por todo Ceará e outras capitanias.

Alguns estudiosos acreditam que foi ele quem primeiro trouxe essas plantas para o Brasil, mas há quem diga que já existiam parreiras no sul do país. Ainda na Europa, aprendeu a arte de enxertar uma planta na outra, hoje coisa popular, mas há 260 anos era uma arte rara.

Naquela época, o governador da província, contrariando uma decisão da Rainha D. Maria 1ª, anterior à criação de Sobral, dividiu a Serra da Meruoca com os membros da Câmara Municipal, Xerez e outras pessoas opuseram-se a essas ordens por considerarem ilegais, já que iam contra a decisão da Rainha, furioso com essa oposição, o Governador mandou prende-los, e todos fugiram até se retratarem, menos Xerez, pois sua hombridade não lhe permitia voltar atrás na palavra dada, dessa forma, foi condenado a sete anos de prisão com trabalhos forçados. Foi então mandado para Pernambuco e de lá para a Bahia.

No fim de dois anos de prisão, seus familiares e amigos conseguiram a transformar a pena de prisão em exílio, com o pagamento de um alto valor em dinheiro. Após os cinco anos restantes da pena, transformados em exílio, Xerez volta ao Ceará já quase sem nenhum recurso, pois pagou a todos que deram dinheiro em troca de sua liberdade, mas munido com poderes dado pelo vice-rei para prender seus inimigos e perseguidores, o que não fez por generosidade.

Em 1789 foi embora para Pernambuco para livrar-se novamente das perseguições de seus inimigos. Ficou por lá por três anos e em 1792 voltou ao Ceará, aonde veio a falecer.

Assim viveu e morreu o Capitão-Mor José de Xerez Furna Uchoa, íntegro cidadão, que introduziu o café no Ceará.

Fonte: Revista do Instituto do Ceará
Jaqueline Aragão Cordeiro

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