ANÔNIMOS DA HISTÓRIA – CAPITÃO MANOEL HONORATO

Seguia o jovem Luciano Rodrigues de Araújo para seu casamento na fazenda Tapuiará de Cima, com Joanna Barreira, filha do fazendeiro Ignácio da Silva Barreira, quando foi alvejado a tiros pelo matador de aluguel Estácio José da Gama, que fora pago para cometer este crime. Luciano morava em Boa Viagem, onde era um rico fazendeiro e prometeu casar-se com a sobrinha de Helena Maciel, irmã de Antonio Conselheiro, mulher terrível, que mandou matar o jovem por ter deixado sua sobrinha predileta, a quem prometera casamento.
Mas tamanho era o amor de Luciano e Joanna, que mesmo atingido no peito por duas balas, casaram-se, morrendo o noivo poucas horas depois. A noiva desolada, ao invés de noite de núpcias, teve que velar o corpo de seu amado. Após o crime, o assassino foi esconder-se no lugar chamado Maria Pereira (atual Mombaça).
Nessa mesma época, João Cacundo, soldado da guarda nacional, destacado em Quixeramobim, foi altas horas da noite roubar um armazém de mercadorias, ao ser surpreendido pelo dono e recebendo deste voz de prisão, mata-o e foge com a arma que fora dada pelo governo e que acabara de matar o comerciante. Foi também esconder-se em Maria Pereira, juntando-se a Estácio. O chefe de polícia pede ao sub-delegado Cap. Manoel Honorato, total empenho na captura dos dois bandidos.

O Capitão Honorato era um poderoso fazendeiro, vivia cercado de filhos, genros, agregados e escravos.  Homem honrado e fiel as leis, tratou logo de cumprir as ordens recebidas, assim, fez diligências e logo descobriu o esconderijo dos homicidas, armou o cerco, mas os espertos assassinos perceberam a aproximação da polícia e fugiram rapidamente, deixando no local a arma com que Cacundo matara o comerciante.

Os fugitivos ficaram bravos com a perseguição e mandaram recado ao Capitão, que em breve iriam fazer-lhe uma “visita”. O Cap. Honorato não deu muita importância a esta ameaça, mas por precaução, manda todos da fazenda para um sítio, também de sua propriedade, chamado Flores. Ficou na fazenda acompanhado somente por sua esposa, uma escrava, um escravinho e um vaqueiro.

Numa manhã estava tirando leite das vacas quando ouviu uma voz nas suas costas que dizia: “Bom dia Capitão Honorato”. Eram os dois assassinos, que muito bem armados, vieram fazer a “visita” prometida. Rapidamente ele se vira, e simulando calma respondeu: “Bom dia meus senhores, deixem que acabe de tirar o leite desta vaca, que lhes falarei”. O vaqueiro ao ver os dois armados até os dentes, pula a cerca e apavorado corre se embrenhando na mata.

Terminando de tirar o leite, vai caminhando pelo curral quando escuta um dos dois falar: “Não atire no homem”, coloca o balde de leite no girau e diz aos visitantes: “Vão para a casa aí pela frente”. Segue por trás enquanto os dois o esperam na frente, entra pela porta da cozinha e encontra sua esposa aos desmaios e Verbéra, a escrava, reanimando-a. O capitão se dirige a ela: “Mulher, por Deus , não dê sinal de fraqueza”. Trancando bem a porta, ordenou a escrava que sentasse ali na sala anterior e que ao primeiro chamado, fosse até ele.

Calmo e simpático, vai até a sala da frente, faz aos dois um ligeiro cumprimento de cabeça e os manda entrar, o que só conseguiu depois de forte e calculada insistência. Sentados em um banco, Honorato fecha a porta de baixo e pergunta-lhes o que querem, ao que responderam que foram buscar a granadeira(arma de fogo) deixada para trás durante a fuga anterior. Ainda com aquela calma que lhe era peculiar, responde que não poderia entregar porque a arma pertence ao governo, mas que lhes forneceria dois cavalos prontos e arreados para fugirem, bem como o dinheiro que dispunha na ocasião, mostrando-lhes ouro, prata e cédulas, que tirou de uma gaveta. Os dois não se mexeram.

Nesse momento, chama aquele escravinho que voltava do curral onde soltara os bezerros, e pede para jogar água em suas mãos para lavá-las, de modo que o pequeno, instrumento inconsciente do seu plano arrojado, desse as costas aos visitantes. Isso feito, fingiu-se de irritado pela falta de educação da criança, dá-lhe uma bofetada com tamanha força que o pequeno caiu no chão, surpresos, os criminosos desviam seus olhares para o escravo. Nesse instante, Honorato avança e dando um pulo, joga e pé no estômago de um deles, que cai desacordado, rapidamente toma-lhe a arma e aponta para o outro gritando: “Rende-te cabra!”, no que foi atendido prontamente. Chama a escrava que esperava na outra sala e manda amarrar as mãos  dos dois e depois prendê-los no armador. Em seguida, acende seu cachimbo, recosta-se em sua poltrona e fuma calmamente.

Dias depois, o capitão Honorato entregava na cadeia de Quixeramobim os dois criminosos. Fora recebido com fogos e música pelas autoridades e pela população, que o aclamavam herói. Meses depois foi agraciado com a Comenda da Ordem de Cristo, com que o imperador premiava tamanha bravura, título que foi recusado pelo capitão.

Os réus foram a julgamento em Quixeramobim, Estácio José da Gama foi condenado a morte por ter assassinado Luciano, sendo fuzilado em 15 de março de 1834, e João Cacundo, condenado a prisão perpétua pela morte do comerciante, terminou seus dias na Ilha de Fernando de Noronha.

O capitão Honorato veio a falecer com 89 anos de idade, estava cego e muito velho, mas foi um digno e honrado filho do Ceará.

Anos mais tarde, Joanna Barreira casou-se com seu primo Francisco Alves de Lima, tiveram três filhos e netos que figuraram no cenário nacional.

Fonte: Revista do Instituto do Ceará – Crimes célebres do Ceará

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