Comissão Matuta

O fim da Confederação do Equador e a morte de muitos inocentes e patriotas, não pôs fim ao tormento dos cearenses. Um grupo de adeptos da monarquia, representados por pessoas influentes da comunidade, criaram no Icó em 26 e outubro de 1824, um governo provisório, chamado de “Comissão Matuta”, uma organização civil formada com o objetivo de capturar membros sobreviventes da revolução, mas na verdade, essa comissão agia à margem da lei, servindo unicamente a vinganças pessoais. Era comandada pelo Ten. Cel. João André Teixeira Mendes e tinha ainda como adeptos: Henrique Luiz Pedro de Almeida, Padre Manoel Felippe Gonçalves, Padre Felippe Benício Mariz (irmão de João André e presidente da comissão), José do Valle, Cel. João de Araújo Chaves e Manoel Antonio de Amorim, nomeado comandante das armas, era um assassino mais cruel que João André. No dia 09 de novembro às 08 horas, eram fuziladas as primeiras vítimas dessa comissão. Eram eles: Manoel Francisco de Mendonça, escrivão da Vila; João Félix, Oficial de justiça; Silvestre, um liberto e João Viegas Frazão, de Lavras. Foram mortos mais quatro vítimas e uma quinta que escapou do fuzilamento, Antonio de Oliveira Pluma. (Sobre o qual contarei os fatos em próxima postagem).

Em 1825 a seca assolava o Ceará e a população atormentada ainda teria muito o que suportar. Tudo era desordem, o mundo parecia um labirinto de desgraças e que Deus havia virados as costas para o povo cearense. Vieram também os homens do governo, seguindo as ordens do Comandante Conrado, para perseguir a todos que supostamente houvessem se comprometido com a rebelião.

Já quase extintas as perseguições entre patriotas e governo, voltaram a se reunir os perseguidores dos republicanos, invadindo o Cariri, em várias partes da província, principalmente em Pereiro, Quixeramobim e na Serra Grande, com o objetivo de matar os republicanos. Esse grupo de bárbaros só chamava de patriota, pessoas que possuíam bens, e assim, mataram muitos civis inocentes, dentre eles, um vigário do Cariri, que teve seu corpo mutilado e depois, tomaram-lhe o cálice bento com que o padre se dirigia à igreja para celebrar a missa, e andavam bebendo nele, aguardente pelos bares do lugar. Outra vítima foi o padre Felippe Benício, então em Viçosa, fazendo-o sofrer torturas e humilhações.

Esse grupo era formado por homens da ralé, pessoas sem caráter e dotados de profunda crueldade, que recebiam ordens de alguém importante da região. As pessoas de bem viviam cabisbaixas e amedrontadas, não saiam de suas casas e ainda assim, eram humilhados e desrespeitados. Tudo faziam esses criminosos acobertados com a capa da religião, de quem diziam serem defensores, mas suas ações desmentiam suas palavras, pois desobedeciam as leis sagradas e corrompiam os bons costumes com bebedeiras, orgias e violência.

Quando se pensava que haveria paz na vila, novo grupo aparecia atacando e saqueando a região. Miguel José de Queiróz, comandante geral de polícia, as saber das invasões, reuniu 9 homens e seguiu para um ponto estratégico onde impediria a invasão da vila de Quixeramobim. De inicio o bando foi disperso, mas logo se reagruparam em mais de 600 indivíduos, entraram na vila e seguiram para a casa do Cap. Mor José dos Santos Lessa, que, em vão, tentou dissuadi-los de tais desatinos, e sem nenhum respeito, passaram a ameaçá-lo e agredi-lo verbalmente. Diante de tamanha confusão, só conseguia se ouvir os gritos dos invasores convocando para o saque geral, pois esse era o intuito.

Manoel Martins Buriti, vendo aquela confusão, reuniu uma dúzia de soldados da cavalaria miliciana e saiu percorrendo as ruas em ronda, e os invasores, vendo a coragem e determinação de Manoel Buriti, começaram a fugir, e em menos de 2 horas, já não se via mais nenhum invasor na vila.

Pensava-se que haviam desistido de seu intuito criminoso, mas poucos dias depois, voltaram em um número ainda maior, agredindo as mulheres com palavra chulas e procurando algum membro oculto da revolução frustrada, a fim de matá-los. Além da mal sucedida revolução que matou a muitos republicanos e cidadãos inocentes, o povo cearense ainda sofreu as perseguições políticas do desumano Conrado, até ser impedido pelo novo presidente Belfort, que assumiu em 1825.

Fonte: Memórias do Prof. Manoel Ximenes de Aragão / Comissão Matuta (Revista do Instituto do Ceará)
Imagem: Arquivo nacional

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