Estrigas

Nilo de Brito Firmeza nasceu em 19 de setembro de 1919, em Fortaleza. Mais conhecido como Estrigas (apelido que ganhou quando ainda estudante no Liceu do Ceará) fez carreira como artista plástico a partir de 1950, como um dos principais articuladores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap). Participando, desde então, ativamente do movimento artístico local e nacional, sagrou-se vencedor de diversos salões de arte, possuindo dezenas de exposições individuais e coletivas, além de ter obras no acervo de inúmeros museus de arte e coleções particulares espalhados por todo o Brasil. Fundou em 1969, juntamente com sua esposa, a artista plástica Nice Firmeza, o Minimuseu Firmeza, no sítio em que reside, no bairro do Mondubim. O acervo conta a história das artes no Ceará através de vários documentos, como pinturas, reproduções, esculturas, catálogos, livros, recortes de jornais, entre outros, numa história que se confunde com sua própria vida.

Como o próprio definiu, “o artista é sempre um passageiro do nada em busca do tudo”. No caso de Nilo Brito Firmeza, mais conhecido como Estrigas, essa viagem o envolveu (e o envolve) de modo particular. Pintor e ilustrador consagrado, ele ajudou a escrever a história das artes plásticas no Ceará no século XX. Não somente na qualidade de um dos seus protagonistas, mas também como memorialista e observador atento. Um dos principais articuladores da Sociedade Cearense de Artes Plásticas (Scap), que congregou, entre outros, Mário Baratta e Raimundo Cela, Estrigas analisou e documentou, ao longo da trajetória de mais de 50 anos, o mundo das artes plásticas cearense, por meio de livros e artigos publicados em jornais locais. Perto de completar 90 anos, o artista traz mais uma contribuição com o lançamento do livro Artecrítica (Edições Secult/UFC), e a abertura da exposição Cabeças feitas, hoje (17), logo mais à noite, no Museu do Ceará.

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Artecrítica referencia o nome de uma coluna assinada na década de 1980 pelo artista e reúne textos publicados desde 1958 em jornais cearenses até os dias de hoje. Sem rodeios, o artista se pronuncia sobre o que viu e o que viveu. Muitas vezes, com espírito militante. Entre os episódios que registrou, está, por exemplo, a construção da estátua de Iracema, na avenida Beira Mar, na década de 1960, executada pelo escultor pernambucano Corbiniano. À época, Estrigas criticou a forma de escolha do artista (não houve concurso) e a execução da obra “de muito mau gosto”. “As nossas autoridades são tão ignorantes em matéria de arte que não sabem nem para que lado devem voltar-se e, geralmente, voltam-se para o lado errado”, pontuou em Depredações no Município, publicado originalmente na Tribuna do Ceará, em 1965.

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O testemunho de Estrigas também transcorre pelas galerias ou a falta delas (Onde estão as galerias de arte?), pela “estrangeirada ruim” que por aqui aporta (Fósforo contra as estrelas), além de mostras coletivas e individuais, a Scap e o investimento público oficial nas artes. “Eu fiz uma seleção distribuindo pelo tempo e pelo que eu achei mais representativo desse caminho que arte no Ceará percorreu, com as batalhas que a gente travou, com o que a gente projetou, sugeriu, realizou e o que não foi realizado”, conta Estrigas, que, para a pesquisa em recortes de jornal, recorreu ao acervo pessoal, que compõe o Mini-Museu Firmeza, fundado por ele e a esposa Nice Firmeza, no sítio onde vive o casal, em Mondubim, em 1969. Criado para suprir a lacuna de uma “visão artístico-histórica de toda uma arte que se fez-faz no Ceará”, o museu reúne obras representativas, livros, fotografias e catálogos.

Ao falar sobre o artista plástico Antonio Bandeira, na década de 1960, só para citar mais um exemplo, Estrigas aproveitou para cobrar uma exposição do conterrâneo na cidade de Fortaleza “onde imperam no gosto, quase geral, as cópias de estampas de Zandrino, Caruso etc”, disse. “Urge recuperar o Ceará para um plano à altura dos seus grandes mestres. A oportunidade é esta para recomeçar. Há alguém capaz?”, indagava. Entre os textos mais recentes, o livro traz uma crítica de Estrigas a respeito dos salões de arte “mal orientados e mal decididos”. “O Salão de Abril (mostra de artes visuais promovida anualmente pela Prefeitura Municipal de Fortaleza) perdeu seu objetivo maior como manifestação artística e se fixou num comportamento voltado para a manifestação mais decadente do momento contemporâneo”, diz em Tensão na Arte, de 2006.

Em 287 páginas, o livro serve, segundo Estrigas, como panorama da instabilidade que permeou as relações entre governos, artistas e arte ao longo das últimas décadas no Ceará. “Um pensa de um jeito, o outro pensa diferente. Uns estão fazendo muita coisa, outros ficam apáticos. Outros só pensam em ganhar dinheiro. Há os que se aproveitam das facilidades e se manifestam no campo da arte sem ser artista. É esse samba do crioulo doido. E, nisso tudo, quem vai perdendo é a arte”, acredita. Estrigas também é autor, entre outros livros, de Aspectos Pré-Históricos no Ceará (1969), A fase renovadora da Arte Cearense (1983), Contribuições ao Reconhecimento de Raimundo Cela (1988), Barrica: o Alquimista da Arte (1993). Na noite de hoje, o artista plástico também expõe ao público um pouco de sua vida, suas histórias, amigos e parceiros. Traz em traço e cores, 22 quadros de sua autoria, produzidos ao longo das últimas décadas, onde retrata perfis de amigos e parentes. Batizada de Cabeças feitas, a mostra tem vernissage juntamente com o lançamento do livro.

Fonte: Enciclopédia Nordeste
Jaqueline Aragão Cordeiro

One Reply to “Estrigas”

  1. Olá Jackeline, fiquei super feliz em encontrar seu blog por acaso pesquisando na net. Tenho um blog intitulado “O ceará é assim”, onde exponho um projeto didático pedagógico com estudos sobre nosso estado. Adorei o seu e espero que veja o meu: http://www.ocearaeassim.blogspot.com
    Andei “pescando” as doenças e o perfil do cearense. Grande abraço. Profa. Scheila

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