Nação Cariri

No início de 1979, em período de férias, reuniram-se, no Crato, vários artistas aí radicados com artistas e produtores culturais que moravam em outras regiões do País. O motivo da reunião era criar um movimento mais amplo de arte e cultura e um jornal que tivesse uma ampla circulação e fosse um elo entre a cultura popular tradicional e jovens artistas contemporâneos antenados com outras influências. Procurou-se um nome para ele, e surgiu Nação Cariri, em homenagem aos índios Cariris e à luta que travaram contra os colonizadores, na chamada Confederação dos Cariris.

O grupo inicial foi praticamente o mesmo que fazia o movimento “Por Exemplo”, no qual Rosemberg Cariry foi um dos fundadores, ao lado de Jackson Bantin, José Wilton (Dedê), Cleivan Paiva, Teta Maia, José Roberto França, Emérson Monteiro, Geraldo Urano, Pachelly Jamacaru, Zé Nilton, Luiz Carlos Salatiel, Stênio Diniz, Jefferson de Albuquerque Jr., Valmir Paiva, Luiz Karimai e Decas, entre outros.

O movimento teve, logo em seguida, a colaboração de artistas que moravam em São Paulo (Tiago Araripe, Hermano Penna, Francisco Assis do S. Lima); em Recife (Ronaldo Brito) e em Fortaleza (Oswald Barroso, Firmino Holanda, Marta Campos, Itamar do Mar e Carlos Emílio Correa, entre outros). A estes nomes, foram acrescidas dezenas de outros, durante a segunda fase do jornal; entre eles: Floriano Martins, Natalício Barroso Filho, o livreiro Gabriel José da Costa, Fernando Néri, Rejane Reinaldo, Joana Borges, Fátima Magalhães, Juarez Carvalho, Pingo de Fortaleza, Ronaldo Cavalcante, Diogo Fontenelle, Nilse Costa e Silva, Ronaldo Lopes, Alan Kardec e Luciano Maia.

Desde os seus primeiros números, o jornal foi distribuído em várias cidades do interior cearense e em algumas capitais brasileiras, por meio de seus correspondentes, chegando assim a circular em universidades, grupos literários, bancas de revistas, livrarias, sindicatos etc. Contudo, o maior impacto do jornal, com ampla divulgação na imprensa e nos meios intelectuais, foi em Fortaleza, cidade onde o Nação Cariri faria sua história.

O ano de 1979 foi um período de grande atividade para aquele movimento. Foi quando, na qualidade de um dos coordenadores do movimento, Rosemberg Cariry tomou parte das reuniões preparatórias do “Massafeira Livre” e sugeriu a participação dos jovens artistas e dos artistas populares do Cariri. Como saberíamos depois, o “Massafeira Livre” iria ter grande importância na carreira e no reconhecimento de alguns desses artistas e servir também de balão de ensaio para o show “Canto Cariri”.

O campo de atuação do jornal foi crescendo cada vez mais e recebeu, inclusive, um efetivo apoio do livreiro Gabriel José da Costa. O “Nação Cariri” não se conteve em ser apenas um jornal e se transformou em um movimento amplo, independente e combativo, tendo sido capaz de deixar duradouros marcos na cultura e nas artes do Ceará.

O “Nação Cariri” atuou nas áreas de música (promoção de shows, editoria de discos), teatro (peças em sindicatos, bairros e campanhas políticas progressistas), literatura (publicações e recitais públicos), artes plásticas (ilustrações de livros e exposições) e cinema (realização de curtas-metragens sobre cultura popular). A atriz e produtora cultural Teta Maia dá também o seu testemunho: “Foi a partir dessa experiência que os poetas do Nação Cariri retomaram a oralidade dos poemas e realizaram inúmeros recitais em teatros, sindicatos e praças públicas”. Como editora, a Nação Cariri publicou vários livros de autores cearenses, bem como álbuns de desenho, cartazes e folhetos.

Uma das grandes preocupações do movimento, ao mesmo tempo em que dialogava com poetas de vários países e com as manifestações de vanguarda, foi a valorização crítica da cultura popular. Os artistas do povo tiveram vez e voz. Grandes mestres e artistas do povo foram divulgados, com grande repercussão.

Exemplo maior dessa ação foi a decisiva participação do grande poeta popular Patativa do Assaré, que sempre fez uso das páginas do Nação Cariri e deu grandes contribuições também em recitais e shows artísticos. Artistas e grupos de artes tradicionais foram valorizados e se tornarem bastante conhecidos das novas gerações. A aproximação do “Nação Cariri” com os artistas populares do Ceará foi uma experiência muito rica. O encontro da tradição com a vanguarda, do popular com o erudito, do saber científico com o empírico, no calor das lutas e das conquistas de espaços simbólicos, marcou o início de uma caminhada que considero vitoriosa para as culturas populares cearenses.

Referência: Entrevista de Rosemberg Cariry ao Site Portal Vermelho

Jaqueline Aragão Cordeiro

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