Questionários – Raquel de Queiróz


Começou o ano de 1959, estava tardando: lá vem o amigo dos questionários (que se assina J. A. Côrrea, de São Paulo). Ele insiste porque sabe que o êxito é certo, os leitores ficam alvoroçados muita gente se interessa por responder também, ou discutir as respostas dadas. Acho que é coisa da natureza humana isso de gostar de ser interpelado e responder, explicar-se, nem que seja para sofrer.

Não fosse assim, como é que os entrevistados em certos programas de televisão se prestariam a expor-se num verdadeiro pelourinho, respondendo a indagações que, ou são indiscretas, ou são descorteses, ou são capciosas, ou são maldosas – e, invariavelmente, mesmo quando formuladas por amigos, são perguntas de inimigo? Note-se que não censuro os produtores dos programas. Estão no seu papel de bons repórteres, tratando de tirar o máximo de informação e novidades dos seus entrevistados.

O que me admira é a cooperação das “vítimas”. Porque se prestam ao interrogatório a troco de nada – não é por obrigação, não é por dinheiro. Talvez porque o homem, na sua essência, é mesmo um bravo, um lutador, e gosta de sentir o desafio, descobrir adversários e meter-se com eles. Assim como os campeões da Idade Média que arriscavam a vida em torneios: o seu principal atrativo era mesmo sentir a presença do perigo.

Eu, porém, que sou uma fraca mulher, confesso que jamais me entregaria àquelas feras. Nem por ouro, nem por prata, nem por sangue de Aragão. Vou-me ficando por estes inocentes questionários de leitores, que satisfazem de algum modo o nosso instinto de duelo — mas duelo ameno, daqueles que têm de acabar antes do primeiro sangue…

Revista O Cruzeiro – 30 de maio de 1959
Jaqueline Aragão Cordeiro

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