Anônimos da história – Padre João Alveres da Encarnação

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“ANCHIETA E OS TAMOIOS” DE CALIXTO

O padre João Alveres da Encarnação nasceu dia 04 de março de 1634 em Portugal, era descendente de uma ilustre família local. Desde cedo mostrou seus dons religiosos, sua bondade e boa índole tornaram fácil sua educação. Veio se congregar no Convento de Santo Amaro em Olinda, o padre foi destinado para ensinar e converter os nativos pagãos que não se preocupavam em buscar a salvação de suas almas.

A confiança em Deus o fazia desprezar perigos, não fraquejar na sua missão, não temer demônios ou perseguições e viver contente com as diversidades impostas à sua missão. Quando doente, esperava de Deus a cura, vivia sob rigorosos jejuns, alimentando-se apenas com ervas, legumes e frutas, seu coração transbordava amor divino. Era devoto fervoroso da Virgem Maria, seu amor ao próximo o levava ao grande zelo e afeto com que cuidava das pessoas. Era extremamente humilde quando necessitava falar com os outros, no desejo de conquistar almas para Cristo, veio para o Ceará. Aqui, vivia em vigílias e  se embrenhando nas matas, por vezes percorria descalço os caminhos quase inacessíveis. Superava todos os perigos para converter os idólatras, aconselhava os índios com sabedoria, dando sempre exemplos de vida para que largassem a idolatria, então, com tanto amor e humildade, ia conquistando corações para Jesus.

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“ENCONTRO COM ÍNDIOS” DO ALEMÃO RUGENDAS

O capitão-mor da província tornava cativo os índios já domesticados, com tanta violência, que gerou uma revolta, os índios queimaram suas aldeias e se armaram para a guerra, escondendo-se na mata. Isso causou grande sofrimento ao padre, que buscou intermediar a paz, sua perseverança fez com que os índios se acalmassem e voltassem para as aldeias e as reconstruíssem. A fama do missionário cresceu entre os índios dispersos, logo a aldeia estava tão cheia que foi necessário edificarem novas casas. Este servo de Deus era famoso por suas virtudes e ouvia-se histórias, não só pelas tradições antigas mas por relatos verdadeiros, de seus significativos milagres, então, por ordem do Bispo Frei José Fialho, o vigário geral do Ceará, padre Alexandre da Fonseca, foi averiguar tais fatos, relatados como segue.

O padre João Alveres foi chamado para administrar os sacramentos num enfermo, que vivia longe dali seis léguas. Chegando às margens de um rio que estava cheio e agitado por causa das fortes chuvas, viu que não daria para atravessar a pé. Olhando ao redor, reparou que havia um cavalo ali perto, aproximando-se, achou o animal tão manso que resolveu montá-lo para atravessar o rio, mas tamanha era a violência das águas que o padre e o animal foram engolidos por um redemoinho, sob os olhares perplexos dos índios que o acompanhavam. Rapidamente voltam à aldeia e mobilizam uma equipe de busca que passou a noite inteira e parte do dia nessa procura, sem nada encontrarem, já se preparavam para voltar, quando viram o padre na outra margem do rio, e entrando na água, desapareceu, reaparecendo junto deles, suas roupas estavam secas e sem nenhum sinal da proeza que acabara de fazer.

Nessa mesma época  achava-se ferido gravemente, por uma bala no ombro, o capitão Carlos Ferreira, movido pela compaixão, foi o padre para Fortaleza, visitá-lo. O cirurgião dera ao doente poucas horas de vida, porque não conseguia estancar o sangramento, então, a padre pegou algumas folhas de tabaco e pôs no ferimento, amarrando esse curativo com seu lenço de uso pessoal, depois voltou para casa. De imediato o capitão sentiu grande alívio que diminuiu as terríveis dores, deixando livre o movimento do braço e restituindo suas forças, mandou então que retirassem o curativo e para surpresa geral, do ferimento restava apenas uma pequena cicatriz.

Era comum naquela época as pessoas se envenenarem com mandioca, pois confundiam com macaxeira e as comiam assadas. Se não tomassem o antídoto imediatamente, certamente morreriam. Aconteceu que dois homens, vítimas deste engano, já se encontravam muito mal, quando o criado de um deles vai até o padre pedir o remédio, ao encontrá-lo e sem nada contar sobre o motivo de sua visita, o padre vai logo lhe dizendo que volte rapidamente para acudir o enfermo, entrega-lhe um saquinho com açúcar e diz que o doente deve beber tudo, afirmando que ele não precisa mais de remédio. Muito admirado ficou o rapaz em ver como o padre sabia de tais acontecimentos sem que ninguém tivesse contado. Seguindo as orientações, volta apressado para onde estavam os enfermos, encontra um já falecido e o outro agonizante e com respiração difícil, prepara o pó de açúcar e dá para ele beber, que de súbito, se recupera do envenenamento.

O peso da velhice e as enfermidades poderiam ser pretexto para a aposentadoria do nobre padre, mas a pena que sentia pelo sofrimento alheio, não permitia. Quando finalmente se viu livre das obrigações de missionário, se recolheu no convento de Recife onde constantemente ouvia as confissões e orientava a todos para conseguirem a salvação. Estava o velho padre sofrendo com um tumor que lhe causava dores terríveis, mas recusava qualquer medicamento. Esta doença foi dada como incurável, e o missionário sentindo que a vida lhe fugia, confessou-se e pediu os sacramentos, que os recebeu com reverência e lágrimas. Pediu perdão aos presentes a aos ausentes por sua fraqueza em chorar naquele momento, e abraçado a imagem do Senhor crucificado, faleceu, em 29 de setembro de 1719 aos 85 anos de idade.

Houve grande clamor com sua morte, não só pelos padres congregados, mas em todo o Recife pela fama de santo do missionário. Cortaram pedaços de suas vestimentas e adoravam como relíquias, nos dois dias em que foi velado, seu corpo permaneceu em perfeito estado de conservação. Sua vida girou em torno da bondade, amor ao próximo e dos relatos de tais milagres. Mas, o mais impressionante aconteceu após sua morte, o tumor ulcerado que em vida exalava odor fétido, que causava mal estar em quem sentia, após a morte do padre, desapareceu de imediato, exalando uma fragrância suavíssima e desconhecida, que invadiu toda a igreja

Fonte: Instituto do Ceará – Apontamentos biográficos de um missionário do Ceará / Desagravos do Brasil e Glorias de Pernambuco pelo Frei Domingos de Loreto Couto (1895)
Jaqueline Aragão Cordeiro

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