I
Sou um homem cearense
Venho lá do sertão
Não tenho água nem roupa
Nem comida nem valor
Só o corpo sem ação.
Quando olho para a terra seca
Sinto vontade de chorar
A terra é quente como fogo
As plantas, talo seco sem folha
O povo morrendo sem parar
Isso tudo parece um jogo, um sonho
Senhor Deus, me faça acordar
II
As mulheres não tem mais leite
As crianças pequenas morrem de fome
Os animais estão magros como vara
Os homens não tem serviço
Pra’s famílias sustentar
Nosso povo some
Nossas pernas não tem força pra andar
Somos muitos a emigrar
Nessas estradas sem fim
Sem minguem que diga sim
Ou comida e água possa nos dar
Me ajoelho e rezo a Deus:
Senhor, não quero mais viver sofrer
Também sou teu filho, vem me ajudar!
III
Vamos pra capital
Ou pra’s cidades do sul
Tentar a vida por lá
Pra nossa família alimentar
Trabalhando na rua
Ou servindo de escravo
Para algum cidadão
Que só nos paga o dinheiro da condução
Enquanto morremos de trabalhar
Sendo tratados como cão
Meus olhos se enchem d’água
Pensando no meu lugar
Onde era tratado como gente
Diferente da capital
Pergunto aos companheiro:
– Onde vamos parar?
E todos nessa aflição
Olham pro céu e começam a rezar
Pedem a Deus uma solução
Para um marginal não se tornar
E se não tiver jeito
Pedimos a salvação
– E Deus, pode me levar!
Escrito em outubro de 1986
Jaqueline Aragão Cordeiro
Excelente, prima. Gostei de ver a sua veia poética. Suas palavras revelam seu sangue nordestino e o que observou quando da sua convivência com o povo sofrido do sertão. Continue, Você tem talento.
Muito obrigada prima, fico muito feliz com seu comentário.