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Incelenças

Jaqueline Aragão Cordeiro, 5 de fevereiro de 201923 de janeiro de 2019

As Incelenças são Cantigas de Guarda, Cantigas de Sentinela ou Benditos de defuntos. Derivada da fusão entre certos rituais fúnebres lusitanos e cantigas de origem cristã-nova, o uso das Incelenças remonta aos primórdios da colonização brasileira. Suas matrizes portuguesas remontam uma forma similar de expressão oral denominada Excelência, que, por sua vez, provém de antigas tradições mouriscas, adaptadas à realidade católica.

Constituem uma forma de expressão musical típica de localidades do Ceará, Sertão Nordestino, cidades do Vale do Paraíba e, em escala maior, em outras regiões do Brasil. O termo Incelença remete a uma ampla coletânea de pequenos cânticos executados especialmente em virtude de falecimentos. De forma similar, podem ser também executados sob a cabeceira dos enfermos terminais, substituindo a extrema unção na ausência de sacerdote. Neste âmbito, credita-se às Incelenças a propriedade de despertar nos agonizantes o remorso sobre os pecados, incitando-os ao arrependimento. Existem também, registros de sua utilização em meio a preces contra males infecciosos, inundações ou mesmo para amenizar as duras estiagens que castigam a região do semiárido. Em outras acepções, porém, a utilização destas cantigas fora dos contextos estritamente fúnebres é considerada um agouro de morte.

Marcadas pela perpetuação de sua oralidade (estendendo-se de pai para filho e de benzedores para jovens através da memória), as Incelenças apresentam uma estrutura rítmica bastante simples e compõem-se sempre de doze estrofes – o número dos apóstolos de Cristo, idênticas à primeira, exceto pela marcação numeral no início de cada uma. A execução de tais cantigas é feita sem acompanhamento instrumental, sendo, geralmente, iniciada por uma ou mais vozes femininas, que cantam os primeiros versos de cada estrofe e às quais se segue um coro em uníssono, entoando os demais. Outras vezes, embora mais raramente, podem ser rezadas, cantadas em solo, uníssono ou coro. Seja como for, acredita-se que uma vez iniciada a execução das incelenças não podem ser interrompidas, nem mudados seus executantes, sob pena de a alma do falecido não alcançar a salvação.

Embora tenham sido, no passado, parte integrante da generalidade dos velórios sertanejos, a severa repressão policial, em parceria com o descaso das autoridades católicas, tornou a utilização das Incelenças restrita às zonas rurais mais isoladas e distantes das grandes aglomerações urbanas. Atualmente, entretanto, medidas pontuais vêm sendo tomadas para reavivar a tradição das Incelenças em certos contextos.

No Nordeste brasileiro, a utilização fúnebre das Incelenças tradicionalmente insere-se num contexto ritual conhecido como Sentinela, Guarda, Guardamento ou Fazer Quarto. Nessa forma tradicional de velório, realizada na própria casa do falecido e que se estende por toda a noite anterior ao sepultamento, atribui-se às Incelenças a propriedade de invocar os anjos e santos, que, segundo a crença, acompanhariam a alma do falecido até o destino conveniente.

Por muito tempo, as incelenças constituíram parte fundamental dos velórios na região do semiárido, tendo sido retratada por diversos autores e compositores como intrínsecos a eles. Em Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, a conversa entre Severino e a Comadre, na qual ela lhe pergunta se sabe rezar excelências, sugere mesmo que, em virtude da grande mortandade, as incelenças despenhavam um papel importante na vida cotidiana da comunidades do semiárido. Dorival Caymmi, por seu turno, grava uma popular incelença sob título de Velório, explicitando o fato de que, para o homem sertanejo, os velórios e as incelenças seriam quase inseparáveis.

Atualmente, entretanto, a utilização das Incelenças sobrevive numa área cada vez mais restrita do semi-árido Nordestino, tendo sido virtualmente extinta nas imediações das grandes áreas urbanas. A distribuição, outrora comum, de bebidas alcoólicas em quantidade entres os convidados às Sentinelas, contexto ritualístico onde as incelenças eram mais comumente usadas, tornava-os suscetíveis ao envolvimento em brigas e discussões, o que rendeu a essas celebrações a fama de bárbaras e motivou a dura repressão policial a elas dirigidas.

Mais recentemente, medidas pontuais vêm sendo tomadas para a salvaguarda dessa forma de expressão musical. Em Barbalha (CE), devotas unem forças para o perpetuamento da tradição das Incelenças, preservando-as do esquecimento. Em Souza (PB), Cantadeiras preservam a tradição das incelenças de chuva, os rituais a elas associados. Em 2012 o Grupo de Incelências de Barbalha foi nomeado com o título de MESTRE DA CULTURA DO CEARÁ.

Veja no vídeo abaixo, um exemplo dessa tradição.

Fonte: Wikipédia
Jaqueline Aragão Cordeiro

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