Uma coisa é certa, quem observa de fora uma conversa entre cearenses, precisa de um dicionário específico, e de quebra, certa malícia. Nós temos uma linguagem própria, e um humor gaiato. Esses são apenas alguns dos muitos elementos que formam a identidade do Ceará. Consciente da riqueza histórica do Estado, Jaqueline Aragão Cordeiro puxou para si o desafio de compartilhar essa narrativa com outras pessoas. Essa é a proposta do blog Coisa de Cearense (www.coisadecearense.com.br).
No entanto, como o cearense tem o DNA do humor, Jaqueline não deixa de lado a “gaiatice”, a começar pelo nome do blog. “Sempre gostei muito de história, eu lia coisas incríveis sobre fatos acontecidos no Ceará, mas não tinha com quem compartilhar, aí surgiu a ideia do blog, assim eu poderia dividir essas histórias. O título vem da linguagem popular, usamos “coisa” no singular em várias situações”, conta a blogueira.
Comprovando que o “saber das coisas” rende audiência, o blog tem público cativo. São 400 acessos diários, e mais de 800 mil acessos desde a criação. Para Jaqueline, o diferencial está, justamente, na informação. “Quero resgatar e contar nossa história, as personalidades que fizeram esse Estado nascer e se desenvolver. Quero destacar nosso linguajar, que pode ser gramaticalmente errado, mas faz parte da nossa cultura”, afirma.
Em entrevista ao jornal O Estado, Jaqueline Cordeiro fala, ainda, sobre os desafios e conquistas do Coisa de Cearense.
Jaqueline, primeiro vamos falar sobre você. Quem é Jaqueline Aragão Cordeiro? Além do blog, quais são suas áreas de atuação?
Nasci em Santa Quitéria e cresci em Canindé. Sou graduada em Pedagogia, mas nunca atuei na área, trabalho como coordenadora de equipe de vendas, em uma grande distribuidora de medicamento de Fortaleza.
Como surgiu a ideia do Coisa de Cearense?
Sempre gostei muito de história, eu lia coisas incríveis sobre fatos acontecidos no Ceará, mas não tinha com quem compartilhar, aí surgiu a ideia do blog, assim eu poderia dividir essas histórias. O título vem da linguagem popular, usamos “coisa” no singular em várias situações.
No início, qual era a proposta editorial do blog? Hoje, o que mudou no Coisa de Cearense?
A proposta sempre foi uma só, eu queria mostrar que o Ceará não é somente praia, humor e forró, não é terra de “cabeça chata” despreparado que se tornou garçom ou porteiro, somos muito mais que isso, somos um povo forte, lutador e bem humorado. Sofremos discriminação todos os dias e para combater, não revido o ataque, posto sobre as maravilhas do nosso Estado e as pessoas fantásticas que são os cearenses.
Você prioriza o aspecto histórico do Estado. Como você avalia a relação do cearense, de um modo geral, com sua própria história?
Infelizmente o cearense não conhece sua história, não sabe quanta coisa já aconteceu nesse Estado. Convive com a seca há séculos, mas não sabe o que nossos antepassados sofreram por causa dela, não conhecem a história da sua cidade, dos nossos índios, das batalhas por independência, da origem de suas famílias, do regime coronelista, enfim, de onde viemos e por tudo que passamos para podermos chegar onde estamos.
Ainda de acordo com as pesquisas que você realiza para o blog, quais são as riquezas do Ceará que não são muito valorizadas pela população?
É muito triste quando vemos prédios históricos sendo destruídos, em Fortaleza, Caucaia, Canindé, Granja, Aquiraz, e muitas outras cidades, os prédios são abandonados e até mesmo demolidos. O poder público e a população não dão o devido respeito que essa parte da história merece.
Em sua análise, quais são os diferenciais do Coisa de Cearense?
A informação é o diferencial. Quero resgatar e contar nossa história, as personalidades que fizeram esse Estado nascer e se desenvolver. Quero destacar nosso linguajar, que pode ser gramaticalmente errado, mas faz parte da nossa cultura. Além da história, mostrar também o turismo, o humor, a culinária, os objetos, os costumes.
Como você desenvolve as pautas do blog?
Não quero que ele se torne uma coisa sem graça e cansativo, então vou mesclando humor, fotografias e textos. Os textos são, muitas vezes, resumos de livros e outras vezes transcrições. As “gaiatices” são o que ouço nas ruas e ouvi muito quando era criança, e o acervo fotográfico é feito por mim e amigos colaboradores.
Desde a criação do espaço até agora, o blog contabilizou quantos acessos?
Até o momento, temos um total de 831.000 acessos, com 12.000 a 14.000 acessos por mês.
Você conhece o público do Coisa de Cearense? Como é sua relação com seus leitores?
O público é muito diversificado, mas meu maior contato são com pessoas que precisam de algum tema ou informações específicas, principalmente, estudantes. Minha relação com os leitores é maravilhosa, recebo muitos e-mails com elogios e agradecimentos, o que me deixa extremamente feliz.
Como você avalia a receptividade do público com relação a proposta do blog?
Tenho uma média diária de 400 acessos, essa é a resposta que preciso para a proposta apresentada, saber que servimos de fonte de pesquisa e que a ideia de contar a história do Ceará interessa a tantas outras pessoas, mostra que o objetivo foi atingido.
As redes sociais têm um papel importante na difusão das notícias e também nesse retorno do público em relação ao seu trabalho. Como você avalia o impacto das redes para o blog?
É extremamente importante para divulgar o que foi postado e alcançar um público maior, tudo está interligado: facebook, instagran, tumblr, twitter, dessa forma, a postagem do site pode ser compartilhada instantaneamente e o feedback é imediato.
Em sua opinião, quais foram os principais desafios e conquistas do blog desde a criação?
Um dos principais desafios foi encontrar fontes de pesquisas confiáveis e formar meu acervo fotográfico, que nunca estará completo. A maior conquista, sem dúvida nenhuma, é saber que 400 pessoas diariamente se interessam pelo conteúdo do site e que compartilham da minha proposta.
Para finalizar, o que o blogueiro deve considerar para o sucesso de seu espaço?
Focar no que gosta! Não adianta escrever sobre história e moda, história e culinária, devemos estudar sobre o tema que escolhemos e fazer o melhor. Enriquecer nossos conhecimentos para falarmos do assunto com sabedoria e assim transmitir segurança para os leitores. O público atingido pode até não ser o desejado, mas a satisfação deve vir em primeiro lugar.
Glossário
Gaiatice – Qualidade de ser gaiato. Cheio de brincadeiras exageradas, falando alto.
Essa matéria foi de 2015, atualmente já estamos com quase dois milhões e meio de acessos.
Fonte: Jornal O Estado
Jaqueline Aragão Cordeiro