Manoel Pereira dos Santos, o Mané Coco, era proprietário do Café Java, que em 1892, era ponto de parada obrigatório na Praça do Ferreira. Diz-se que era excelente pessoa, muito inteligente, embora não fosse desprovido de cultura e andar sempre corretamente vestido, se recusava a usar gravata, o que o excluía de todas as festas e solenidades.
Espírito alegre, brincalhão e solidário, aos sábados podia-se ver na sua porta, uma fila de mendigos a quem distribuía esmolas. Era um leitor apaixonado e para tudo tinha a sua piada predileta.
Nas horas vagas consertava relógios e máquinas de costura, dos quais, não raro, contam as más línguas, sobravas peças, que ele honestamente devolvia aos proprietários.
Devido a sua popularidade, nos primeiros anos da república foi feito subdelegado de polícia, cargo que exerceu até que, sem nenhum motivo e com um simples telefonema, foi demitido, fato que o deixou bastante chateado, pois dizia que “não se faz isso com um homem de bem”.
Quando havia qualquer incêndio na cidade, era Mané Coco chamado com urgência, e lá ia ele, munido apenas com dois baldes de madeira e uma machadinha, e desse modo, acumulava as funções de bombeiro. Mas sua inclinação era pela classe dos literatos e poetas, tanto que, sob o teto do seu popular quiosque, nasceu a “Padaria Espiritual”, e Mané Coco jamais esqueceu de festejar o aniversário de um “Padeiro”.
Assim, o nome de Manoel Pereira dos Santos, o popular Mané Coco, está ligado à história da maior sociedade literária de então, e consequentemente, a história do Ceará.
Fonte: Coisas que o tempo levou, Raimundo de Menezes, 2000.
Fotos: Arquivo Nirez
Jaqueline Aragão Cordeiro