O dialeto nordestino, também chamado simplesmente de “sotaque nordestino”, é a variante da língua portuguesa mais usada nos estados do Nordeste brasileiro, sendo o dialeto com maior número de falantes dessa região, com mais de 54,5 (IBGE 2024) milhões de habitantes, sofrendo variações. Segundo a classificação proposta por Antenor Nascentes¹, esses dialetos, juntamente com os dialetos da Costa norte, o dialeto recifense e o dialeto nortista, constituem o chamado português brasileiro setentrional, em comparação com as variantes do português faladas nos demais estados brasileiros. O dialeto nordestino tem raiz no Recife, capital de Pernambuco.
É fácil tomar como primeira impressão a velocidade com que os nordestinos costumam conversar. Para isso, é só prestar atenção e entender que algumas palavras podem ter sofrido uma contração. O famoso “oxênte” pode ser tomado como exemplo. Pode se dizer que a expressão deve ser originária de um “olha, gente!” e vem sendo contraído até hoje. A expressão dita como “oxênte” pelos mais velhos, foi reduzida pelos mais jovens e passada a, simplesmente, um “ôxi” e, provavelmente, muito em breve, será apenas um “xi”. Provando sempre que a língua do povo é viva e multável.
As principais variantes dialetais (ou sub-dialetos) em que se subdivide o dialeto nordestino são:
Subdialeto do interior nordestino: É a forma típica do dialeto nordestino, falada propriamente no interior da maioria do estados da região, caracterizada por não apresentar palatalização nas consoantes /d/ e /t/ antes da vogal /i/ e da semivogal /j/ (mesmo em sílabas finais /de/ e /te/) e por palatalizar fricativas³ antes de /d/ (/z/ vira /ʒ/) e /t/ (/s/ vira /ʃ/²), e também a mais difundida pelos meios de comunicação quando se trata do Nordeste. Falado nas regiões Agreste e Sertão, possui expressões bem típicas em cada estado. Ocorre na maioria dos estados nordestinos, do Rio Grande do Norte até Sergipe, nas mesorregiões do Nordeste Baiano e do Centro-Norte Baiano (exceto Feira de Santana e entorno, que falam o dialeto baiano) além das microrregiões de Juazeiro e Paulo Afonso na Bahia, e na porção Sul do Ceará (na região da Serra do Pereiro e nas mesorregiões Sul e Centro-Sul, as duas últimas popularmente conhecidas como Cariri).
Subdialeto nordestino oriental: ocorre, mais próximo a zona leste litorânea nordestina. Muito parecido com o dialeto interiorano, porém sofre influências dos dialetos de outras regiões do Brasil, e até mesmo de outras variantes dialetais nordestinas. É conhecido pela maneira de falar “mais rápida” que a do interior, além de expressões não existentes no dialeto interiorano. Este sub-dialeto é característico das capitais litorâneas entre Natal e Aracaju (com exceção somente de Recife, sua região metropolitana e a zona da mata pernambucana, que falam o dialeto mateiro).
Subdialeto nordestino ocidental: fala já bastante influenciada pelos dialetos nortista e costa norte, havendo um meio-termo entre a palatalização de fricativas, que pode ser mais fraca ou mais intensa, dependendo da proximidade dos estados que falam essa variante com outras regiões, podendo até não haver nenhuma palatalização de fricativas. Falado nas regiões Sudeste e Sudoeste do estado do Piauí, assim como nas microrregiões Alto Mearim e Grajaú, Chapadas do Alto Itapecuru e Chapadas das Mangabeiras e Gerais de Balsas, todas no estado do Maranhão, além de alcançar também a região do Jalapão, no estado de Tocantins.
O dialeto da costa norte, por vezes também chamado de dialeto cearense ou cearencês por ser notoriamente descrito como o principal dialeto do estado do Ceará, é uma variante do português brasileiro falada no estado do Ceará e em partes do Piauí e do Maranhão. No Ceará, seu estado raiz, conta com aproximadamente 8,5 milhões de falantes.
Sua área geográfica abrange a maior parte do território cearense, incluindo as regiões Metropolitana de Fortaleza, Norte, Noroeste, Jaguaribana (excetuando-se a região da Serra do Pereiro, que assim como o Cariri fala o dialeto nordestino) e Sertões cearenses. Além do estado do Ceará, o dialeto também é falado nas regiões Centro-Norte e Norte piauienses (incluindo a capital Teresina, assim como na regiões Norte do Maranhão (incluindo a capital São Luís) e na maior parte das regiões Centro e Leste maranhenses (exceto Alto Mearim e Grajaú, Chapadas do Alto Itapecuru, Chapadas das Mangabeiras e Gerais de Balsas). Possui variações internas, principalmente na Região Metropolitana de Fortaleza, na Região Jaguaribana, na Grande Teresina e nas áreas Norte, Central e Leste do Maranhão.
Dicionário de Cearês (ABIH) Entre e aprenda palavras e expressões cearenses
¹ Antenor de Veras Nascentes (Rio de Janeiro, 19 de junho de 1886 — 6 de setembro de 1972) foi um filólogo, linguista e lexicógrafo brasileiro de grande importância para o estudo da língua portuguesa brasileira. É considerado um dos mais importantes estudiosos da Língua Portuguesa do Brasil no século XX. Ocupou, como fundador, a Cadeira nº 3 da Academia Brasileira de Filologia.
² O fonema /ʃ/ é uma consoante fricativa, palatal, surda. Pode ser representado pelas letras “X” ou “CH”.
³ A palatalização é um fenômeno fonético que ocorre quando uma vogal ou consoante se assimila a um fonema palatal. As consoantes fricativas são produzidas quando o fluxo de ar é constritido em um estreitamento na cavidade oral, o que gera turbulência. A fricativa palatal surda é uma consoante que se articula com a parte média ou posterior da língua elevada ao palato duro. Ela é produzida sem vibrações das cordas vocais, sendo uma consoante oral e central.
Fonte: pv.org.br / wikipedia.org / abih-ce.com.br /
Jaqueline Aragão Cordeiro