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Zé Tatá

Jaqueline Aragão Cordeiro, 5 de fevereiro de 201413 de outubro de 2017

José Benedito de Lima (José Vicente de Carvalho) nasceu em Salvador em 1929. Aos 2 anos de idade perdeu seu pai, vítima de um acidente em treinamento militar. Filho único de mãe viúva, foi criado em Fortaleza, em um conjunto habitacional do Exército. Para complementar a renda, pois a pensão que recebia era modesta, trabalhava como empregada doméstica. José Benedito estudou no Colégio Marista, onde ganhou o apelido de “Zé Tatá”, pois dizem que quando a professora o repreendia, nervoso ele respondia: “tá, tá”, dai veio “Zé Tatá”.

Sua infância foi como de toda criança, passou por todas as fases, foi danado, brigão, namorador. Era um aluno mediano, mas esforçado e logo estava numa escola de Sargentos do Exército, onde estudou enfermagem.

Na escola militar descobriu que era diferente dos outros meninos, pois enquanto os outros sentiam desejos por meninas, ele adorava ver os meninos sem roupa no vestiário. No início, achou estranho, mas rapidamente se acostumou. Ele se destacava em todas as atividades que fazia: era ótimo lutador, jogava futebol e queria participar de todo esporte que envolvia contato físico com os colegas da academia.

Quando estava com 19 anos, foi convidado para se fantasiar de mulher e sair com um grupo de amigos para desfilar no carnaval do centro de Fortaleza. Pediu ajuda à mãe, que não estranhou, pois aquilo era costume no carnaval. Ele então se montou e se transformou numa mulher de quase dois metros de altura, com um salto altíssimo, vestido longo e maquiagem perfeita. Decidiu não usar peruca, deixou seu cabelo natural, bem curto, como deve usar um militar. Foi o dia mais feliz de sua vida.

Infelizmente nem tudo foi felicidade e harmonia, alguns bêbados vendo-os fantasiados de mulher, começaram a agredi-los verbalmente e a pancadaria começou. Zé Tatá vinha mais atrás, e quando viu os amigos sendo surrados e ofendidos, deu um grito de ira e partiu para a briga. Eram mais de vinte homens o cercando, o primeiro levou um chute no rosto e caiu sangrando, semimorto. Os outros, vendo aquele negro enorme, ficaram sem saber o que fazer, Zé Tatá, então, partiu para cima deles com socos e pontapés.

Quando a polícia chegou, a cena era de 30 homens no chão e Zé Tatá revoltado, gritando e batendo em quem se aproximasse. Foram preciso mais de dez policiais para contê-lo. Foi preso por por agressão e perturbação da ordem e passou a noite na cadeia. Apenas Raimundo, um dos colegas, o defendeu alegando que ele apenas os defendera dos agressores.

No dia seguinte saiu da cadeia e Raimundo estava lá para recebê-lo, os dois se olharam e se abraçaram. Zé sentiu que naquele abraço havia mais que amizade. Saíram andando e começou a chover, para se protegerem da chuva, entraram em um pequeno galpão abandonado. Ficaram ali conversando até que Raimundo o beijou na boca.

Quinze dias depois, sua mãe morreu de infarto, dizem que por desgosto pela prisão do filho, ele não falava sobre isso, mas todos sabiam que ele se sentia culpado. Depois que a mãe de Zé morreu, Raimundo foi morar com ele. Todos acharam estranho, mas ninguem teve coragem de falar. Meses depois, Zé Tatá  se forma como Oficial Enfermeiro do Exército Brasileiro, e Raimundo estava lá com ele.

Diante dos rumores das fofocas sobre sua homossexualidade, Zé Tatá toma uma decisão radical e avisa a Raimundo, que daquele dia em diante, durante a noite, só iria sair de casa vestido de mulher. Assim o fez, foi um escândalo, saiu até na imprensa. Como todos conheciam a fama de brigão de Zé Tatá, ninguém se atrevia a falar nada. Sempre que chegava nos bares noturnos, todos olhavam com admiração e respeito, mas algumas vezes era preciso partir pra briga para afugentar algum bêbado abusado, tendo sido preso por agressão inúmeras vezes.

Certa ocasião, aconteceu um fato que Zé Tatá chamou de presente: alguém deixou uma caixa na porta de sua casa, e dentro dela, havia uma menina de poucos meses de idade: Zé e Raimundo pegaram a criança para criar e a deram o nome de Isis, os dois cuidavam dela como mães. A menina cresceu feliz e sob os cuidados desses dois homens de verdade. Eles a puseram para estudar nos melhores colégios da cidade, e mais tarde, Isis formou-se em medicina.

Raimundo morreu aos 70 anos, Zé viveu ainda mais dez anos, sempre sentindo saudade do companheiro da vida inteira. Era o sonho dele morar no Rio de Janeiro, e Isis realizou esse sonho, mudando-se para lá com ele. Ela cuidou dele até sua morte, ocorrida aos 89 anos de idade no Rio de Janeiro. Depois, quando se aposentou, Isis comprou um modesto apartamento e permaneceu morando na cidade maravilhosa.

Fonte: autores.com.br
Jaqueline Aragão Cordeiro

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Comments (2)

  1. Pingback: O Abrigo Central de Fortaleza – Coisa de Cearense
  2. Célia de Fátima Araújo disse:
    28 de julho de 2019 às 09:57

    Queria saber de duas crianças gêmeas que ele criou ,meus irmãos de parte de pai João e Maria se alguém souber o destino ou paradeiro dessas crianças poderia mim informar ? São meus irmãos foi meu pai que deu a ele para criar eu tinha uns 8 anos e os gêmeos tinhas meses cheguei ainda a vê nessa época que eles nasceram ,já fui procurar eles no antigo endereço e não tive notícias ,o.nome do meu pai era wdson Jorge de Araújo morava perto do Zé tá tá quem souber o paradeiro 985 56 50 42 Fátima queria muito ver meus irmãos ,mim ajude quem puder ajudar Deus abençoe essa para que mim ajude a encontrar meus irmãos se não mudou de nome chamava João e Maria !

    Responder

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