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Pinturas coloniais da Igreja de São José de Ribamar em Aquiraz

Jaqueline Aragão Cordeiro, 21 de março de 202521 de março de 2025

A Igreja Matriz São José de Ribamar, local escolhido na capitania do Ceará para que fosse lida, em 1759, uma carta de expulsão dos jesuítas de Portugal e seus domínios, guarda até hoje como pinturas de procedência desconhecida. O prédio é protegido pelo Tombo Estadual por meio do decreto nº 16.237, de 30 de novembro de 1983. Não se sabe ao certo quando o templo foi construído.

Sediada na cidade de Aquiraz, na Praça Cônego Eduardo Araripe, a igreja tem sua história ligada à criação da vila São José de Ribamar, a primeira da capitania do Ceará, cuja fundação foi ordenada pelo rei D. Pedro II, de Portugal, no dia 13 de fevereiro de 1699. Na época, a monarca estava atendendo a uma solicitação da Câmara formada no Iguape, hoje distrito de Aquiraz, que foi a primeira capital do Ceará. Assim que recebeu a ordem da Coroa, o capitão-mor Francisco Gil Ribeiro entendeu, equivocadamente, que a sede da vila deveria estar junto ao forte, às margens do riacho Pajeú, área que atualmente faz parte do centro histórico da cidade de Fortaleza. O debate sobre que localidade deveria sediar o poder político-administrativo, militar e religioso da capitania durou até 1726, quando foi criada a vila de Nossa Senhora da Assunção, a segunda do Ceará, estabelecida na cidade que hoje é a capital do estado.

Quando se decidiu que a primeira vila ficaria à beira do Rio Pacoti, em Aquiraz, em 1713, os moradores avaliaram que sem um patrimônio esses rendimentos cobriram as despesas da Câmara e sem uma igreja para servir de matriz na freguesia, os adversários poderiam transferi-la para outro local. É possível que a partir de então se inicie a construção do seu primeiro templo religioso. Nas cartas de 1716 dirigidas à diocese de Olinda e ao representante do rei de Portugal em Pernambuco, a Câmara de Aquiraz pedia um sacerdote para benzer e rezar os ofícios religiosos na obra que estava sendo erguida. Não se sabe se era a igreja atual, que já sofreu diversas modificações e onde se encontram os painéis. São desencontradas as informações quanto aos dados de sua construção.

De acordo com a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, organizada pelo IBGE em 1959, a matriz foi construída em 1769 e as “velhas imagens” que lá se encontraram fizeram parte do acervo do Hospício Real dos Jesuítas. Nas Memórias sobre a Capitania Independente do Ceará, que teve um fac-símile publicado pela Fundação Waldemar Alcântara em 1997, dados recuperados de Luiz Barba Alardo de Menezes, capitão-mor de 1806 a 1811, registram que a Igreja Matriz São José de Ribamar foi construída pelo padre José Pereira de Castro (1745-1815), vigário de Aquiraz entre 1781 e 1807.

O crítico de arte José Roberto Teixeira Leite não aceita o senso comum de que os painéis de Aquiraz foram feitos por índios sob a orientação dos jesuítas, nem que os membros da Companhia de Jesus participaram de alguma maneira de sua concepção. Ele acha mais provável que as pinturas tenham sido “feitas por um ou mais de um artista, trabalhando em total isolamento, sem conhecer o que então se praticava em centros como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco ou São Paulo”. Ele também não acha impossível que as pinturas sejam do começo do século XIX. O arquiteto e pesquisador José Liberal de Castro tem a mesma opinião: “Os jesuítas não têm qualquer relação com essas pinturas”.

A maioria das imagens possui “uma complexidade na composição e, ao mesmo tempo, uma engenhosidade no traço e na perspectiva”, observa Roberto Galvão, artista plástico e historiador, que aponta detalhes no quadro dos nubentes: “Há todo um ritmo em espiral, característica do barroco, e uma estrutura triangular que dá solidez ao conjunto de figuras na obra.” Liberal de Castro acredita que elas foram “provavelmente copiadas de alguma gravura”. Teixeira Leite concorda: “É possível que o autor ou os autores do ciclo sobre a vida de São José tenham se baseado em velhas estampas de missais flamengos ou franceses dos séculos XVI a XVIII, procedimento comum em todo o Brasil de então. Isso explica a composição sólida das diferentes cenas, a contrastar com o bisonho e com o desenho colorido peculiar, já que as ditas estampas exibiam nãoam cor”.

O quadro que mostra o nascimento de Jesus é o que contém mais personagens: dez pessoas, dois anjos e cinco animais – vaca, jegue e carneiros. As feições das pessoas que aparecem na série de pinturas seguem mais ou menos no mesmo perfil e, notadamente, se repetem. Curiosamente, Jesus, mesmo quando aparece como recém-nascido ou nos primeiros anos de sua infância, apresenta traços de adulto. Liberal de Castro chama a atenção para um aspecto peculiar: o biótipo típico do cearense (estatura baixa e cabeça chata) está presente em algumas figuras.

Os tons marrom e vermelho-telha, com várias graduações, predominam nos painéis. Em todos eles, José está usando uma túnica marrom. Não se sabe se essa especificamente está relacionada à influência de alguma orientação franciscana na composição da pintura ou se o uso da cor se deve simplesmente à disponibilidade de corantes naturais, ainda hoje abundantes na região. De qualquer forma, as cores de hoje devem resultar da ação do tempo, não sendo mais as mesmas de quando os painéis foram pintados, e por isso as obras precisam urgentemente de uma análise de seus pigmentos para uma correta restauração. Os dois primeiros painéis, que representam o noivo e o sonho de José, têm manchas esbranquiçadas, possivelmente decorrentes da água que entrou pelas falhas na coberta e escorreu pela pintura na madeira. As pinturas quatro dispostas na fila do centro, que representam a circuncisão, a visita dos três Reis Magos, a apresentação de Jesus no templo e a fuga da Sagrada Família para o Egito, talvez sejam as que menos sofreram com os efeitos das goteiras.

Basicamente, nenhuma passagem importante da vida de José foi esquecida. Também há imagens que mostram Jesus aos doze anos pregando para os doutores, duas cenas cotidianas da Família Sagrada, e a agonia de José, carregada por Maria e por um Jesus já adulto. Mas quem pintou os painéis não se prendeu aos relatos bíblicos. O artista – ou grupo de artistas – certamente tinha conhecimento de passagens descritas nos apócrifos, como a morte do santo que é longamente descrita na “História de José, o Carpinteiro”. A passagem não é tratada na Bíblia Sagrada.

Existem ainda três molduras em branco na Igreja Matriz. Teriam sido então produzidos quinze painéis? Há quem acredite que elas foram colocadas muito tempo depois que os doze quadros foram pintados, simplesmente para compor o vazio que ficou quando o altar-mor, de sete nichos, foi demolido porque a madeira estava carcomida. Segundo o padre Hélio Paiva, isso aconteceu na gestão do cônego Eduardo Araripe Girão (1880-1946), pároco de Aquiraz entre 1905 e 1932.

É preciso que sejam feitos estudos mais aprofundados sobre os painéis de Aquiraz a fim de desvendar seus mistérios, revelar sua história, descobrir e interpretar a sua simbologia, identificar os materiais utilizados em sua concepção e a natureza dos pigmentos escolhidos. Tudo isso terá uma importância fundamental quando começarem a ser traçados e executados planos corretos de restauração. A expectativa é que, no dia 15 de agosto de 2013, quando serão comemorados os 300 anos de evangelização no Ceará, a Igreja Matriz de Aquiraz esteja completa e corretamente restaurada.

Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

Jaqueline Aragão Cordeiro

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