Burra Preta

Burra Preta era um exótico e espalhafatoso personagem que perambulava pelo centro de Fortaleza. Corpulento e da cor de azeitona, grande estatura, pesando aproximadamente 120 quilos, quadris arredondados, cintura fina, rebolado feminino e apressado, pouco falava, para uns era pernambucano, para outros, baiano.

Percorria a praça do Ferreira sem dar atenção aos gracejos que lhe lançavam. Era como se as palavras de insulto nada representassem, parecia gostar da atenção que chamava. Apareceu em Fortaleza trabalhando em hotéis e pensões familiares dos anos 50/60, depois, entregou-se a ociosidade, passando a desfilar pelas ruas do centro no começo e no final dos expedientes comerciais, causando reações de quem ia ou vinha do trabalho.

Seus passeios aconteciam sempre durante as manhãs e a tarde depois das 17 horas. Andava na frente do Cine São Luis e os transeuntes o vaiavam, ecoando o grito de “Bur-ra-Pre-ta / Bur-ra-Pre-ta” até diante da Leão do Sul. Caminhava a passos largos, sem conversar com outras pessoas, quando muito, pedia cigarros ou uma “merenda”. Usava um bermudão de tecido de “veludo”, alternando somente as cores, com suspensórios que seguravam a roupa. Indiferente aos gritos que ouvia, colocava os dedos nas atacas das calças e dos suspensórios, balançando freneticamente o enorme traseiro por toda a Praça do Ferreira.

Fonte: Jornal Diário do Nordeste
Jaqueline Aragão Cordeiro

4 Replies to “Burra Preta”

  1. DEVERIA SE TER UMA FOTO DESSA FIGURA TÃO FOLCLORICA DE FORTALEZA PARA A PROSPERIDADE… ELA FAZ PARTE DA HISTÓRIA, DA MEMÓRIA POPULAR DE FORTALEZA.
    TADEU MOREIRA – 07/03/2013

  2. Burra Preta era um negro, gay, alto , forte, de lábios bastante grossos que vendia pipoca , às vezes picolé,no portão da Escola Medalha Milagrosa no Bairro Jardim América no final da década de 70 início dos anos 80. Apesar de todo preconceito, ele era uma espécie de vigia dos alunos da escola, sempre respeitoso com todos. E dizem que era um ótimo lutador. Quem o insultava, raramente fica para conferir.

  3. Eu lembro de uma cena nos anos de 1970,eu era garoto ,estava na festa tradicional de nossa senhora da saúde no Mucuripe, e presenciei vários rapazes fazendo algazarra com ele ,xingando e jogando pedras no mesmo ,ele teve uma hora que pegou o ônibus serviluz , iria pra casa ,isso eu imagino, mais mesmo dentro do ônibus ele sofreu um ataque corvade de um rapaz que fora do conseguiu com espeto fura o burra preto ,nas costas até hoje não esqueço essa cena de violência sofrido por ele, esse rapaz era filho de um comerciante que morava próximo do antigo clube social terre e mar.

    • Obrigada pelo comentário Jorge, infelizmente você presenciou uma cena de violência gratuita e desnecessária.
      Abraço,

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