Tenho fé em Deus, que amanhã vai chover…

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Já são quatro anos de seca, Meu Deus!!! Num sei mais o que vô fazê. Todo dia me acordo cedo, junto com as galinha, inda tá escuro, vô pro quintal, só vejo cinza e uns gato pingado de galinha nesse terreiro que já me deu muito dicumê, chega dá é vontade de chorá, mas tenho fé em Deus que amanhã vai chover…

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A muié e os mininu também se acorda, os bixim tem que cumê, mas só tem um restim de café e de açúcar e um restim de pão, isso tem que dar pra enganar o bucho, num vô suportá ver meus fío passá fome.

Boto a cangalha no jumento e vou atrás d’água, ando quase uma légua pra juntar só um tiquim, num tem quase nada, mal dá pra beber. Fico tão desconsolado que num dá nem vontade de viver, dá uma dor no coração que inté parece que vô morrer, mas tenho fé em Deus que amanhã vai chover…

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Vorto pra casa e no fogo só tem uma panela com feijão, o dicumê vai ser feijão com farinha, graças a Deus que inda tem isso, num quero nem pensar nos bruguelim passando fome, é muito sofrimento prum pai de família num sê capaz de dar estudo e cumida pros filho.

Me sento debaixo do velho juazeiro, é a única coisa por essas banda que ainda tem alguma folha verde, o resto já morreu tudo, olho pra cima e nem uma nuvemzinha, o céu tá uma lindeza, bem azulzim, mas que Deus me perdoe, devia de tá era chei de nuvem, devia tá era chuvendo. Que é que eu vô fazê meu pai??? Mas tenho fé em Deus que amanhã vai chover…

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Os passarin tão avuando e se chegando no juazeiro, são tudo tão bonito! A fiarada tá brincando nos terreiro, é uma gritaria só, graças a Deus que ainda são criança e num sabem o tanto que eu e a mãe deles tamo sofrendo com tanta pricisão. Olho de novo pro juazeiro e tá chei de passarin, os meninu tão fazendo tanta zuada que parece uns doido, a muié tá em pé na porta só espiando, ela inda é bunita, uma formosura e uma santa é essa minha muié!

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A noite vem chegano e no poente um encarnado que dá gosto de ver, olho pro céu e é dum azul que nem sei como pode ser tão bunito, a cantoria dos passarin parece assobio dos anjo, o vento começa a esfriar, num vai mais fazer calor hoje, a estrela dalva aparece no ceú, os cachorro tão latindo por causa dum jumento que vai passando, escuto um “ô de casa”, é seu João que vem tirar dois dedo de prosa.

Hoje é mais um dia que vou dormir rezando pra Deus mandar chuva, pra num deixar minha famía passá necessidade, mas duma coisa eu tenho certeza, nosso Pai Celestial num vai deixá piorá não, tenho fé em Deus que amanhã, vai chover…

Jaqueline Aragão Cordeiro

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