Vento Aracati

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Antes do sol se por, e mesmo depois dele, um grande sopro que vem do mar corta o Ceará ao meio, levanta poeira, vestido de moça, roda cata-vento, espalha o cabelo da mulher sentada na calçada, despede do calor com sua brisa marítima fresca no sertão. É o “vento Aracati”, que todos os dias percorre mais de 300 quilômetros. Canalizado pelo Rio Jaguaribe, o vento compõe real e imaginário dos sertanejos, desde bem antes de ser retratado no romance Iracema, de José de Alencar, e de ser objeto de estudos científicos na Universidade Estadual do Ceará (Uece) e é Patrimônio imaterial do Estado.

O “Aracati”, do tupi-guarani “bons ventos”, vem do mar, todas as tardes, como uma brisa marítima que ganha força ao ter por canalizador o Rio Jaguaribe, que desemboca no mar entre Aracati e Fortim. Desde lá, corta o sertão jaguaribano, passando por Municípios cortados pelo rio ou seus afluentes.

O movimento é tema de criterioso estudo de físicos e estudantes da Universidade Estadual do Ceará (Uece). O potencial de geração de energia do vento, que atinge velocidade entre cinco e dez metros por segundo, explica a intensa instalação de parques eólicos em Aracati. Mas, até hoje, não se tem completa dimensão do vento Aracati, que corre mais forte a mais de 500 metros de altitude.

No Ceará, o “Aracati” é verso lembrado pelo poeta Joaquim Cardoso em seu “Congresso Internacional dos Ventos”. Em palavras, varreu o mundo, falando dos alísios e ventos que empurram cheiros e inspirações: “O último que se pôs foi o vento Aracati: cortou uns talos de chuva/ Com eles fez uma flauta/ E se foi, tocando e dançando, /E se foi pela estrada goiana”.

Para uns, é o sopro de Deus, outros dizem que é um movimento que acontece porque a terra muda de lugar. Não importa por que ou por quem, o vento segue firme, numa ligeireza que só se cansa quando se aproxima do Orós, em Icó. Mas os estudiosos dizem que lá em cima, bem nas alturas, o vento ainda corre forte até muito mais longe.

Do litoral ao Icó, passando por Limoeiro, Tabuleiro, Jaguaribara ou Jaguaribe, o vento se esparrama e debulha as folhas das árvores, o sorriso de quem sente o frescor tocar a pele. É como um fechar de ciclo diário. Depois do calor brabo, da “brasa”, vem a brisa, vem o coro: “o Aracati chegou”, percorrendo cerca de 300 quilômetros e uma velocidade de até 10m/s, vai passando pelos Municípios cortados pelo Rio Jaguaribe.

O vento Aracati ocorre principalmente no começo das noites de dias quentes, chegando a atingir velocidade de mais de cinco metros por segundo, a uma altura de aproximadamente 10 metros. Mas o núcleo do vento, ou seja, onde ele apresenta as maiores velocidades, fica entre 300 e 600 metros de altura. A origem e a estrutura do vento Aracati ainda não foram cientificamente comprovadas. Entretanto, pesquisadores do Laboratório Integrado de Micrometeorologia e Modelagem Atmosférica (Limma), da Universidade Estadual do Ceará (Uece), estudam o vento desde 2007. Um dos motivos de apreciação ligada ao vento Aracati é o fato de ele amenizar a temperatura por onde passa. Como carrega muitas partículas úmidas, ele transmite a sensação de uma temperatura mais amena. O potencial de geração de energia do vento explica a intensa instalação de parques eólicos no Município de Aracati. Objeto de estudo de diversas pesquisas científicas e produções artísticas, o fenômeno há várias décadas compõe o imaginário do sertanejo, sendo retratado na música e na literatura. O vento Aracati também foi retratado no livro Iracema, do escritor cearense José de Alencar.

Fonte e imagem: Jornal Diário do Nordeste

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