Pedro Pereira da Silva (Cego Oliveira ou Pedro Padre) nasceu no sitio Baixio, na cidade do Crato, em 1912 e foi batizado em Juazeiro do Norte, pelo Padre Cícero. Pedro já nasceu cego, e tão desnutrido que ninguém a creditava que sobreviveria. Sua cegueira não era total, enxergava vultos, mas não distinguia feições. Era filho de José Cazuza e Maria Ana da Conceição. Pedro e seus irmãos herdaram o apelido de “padre” de seu pai, que após uma doença, perdeu os cabelos da “croa” da cabeça.
Seus pais, oriundos de do estado de Alagoas, vieram para o Cariri em 1904, atraídos pela fama de Juazeiro do Norte, já conhecido por causa de Padre Cícero e da Beata Maria de Araújo, com o milagre da hóstia. Percorreram mais de 600 km a pé no meio da caatinga e da terra seca. Durante a grande seca de 1915, retornam para Alagoas com a permissão do Padre Cícero e a volta é marcada pelas mesmas dificuldades. Retornam a Juazeiro em 1939, mas Padre Cícero já havia falecido.
Quando criança pedia esmolas para sobreviver, mas desde essa época, sua vocação artística já despontara. Sonhava em tocar sanfona, mas sua condição financeira não lhe permitia comprar uma. Quando tinha dezessete para dezoito anos, já era visível seu desenvolvimento musical, então, seus irmãos os parentes o incentivam a adquirir sua primeira rabeca, em 1928.
De volta a terra do Padre Cícero, leva sua vida em festas e comemorações. Não faltam convites para tocar em eventos, chega a receber cinco convites para um único dia, mas toma como meta aceitar apenas um por dia.
No dia 25 de outubro de 1940 se casa com Maria Anunciada e vão morar no sítio Cipó, a 23 km de Juazeiro, onde moram seus pais e irmãos. Francisco Padre, seu irmão, sede a casa para os recém-casados morarem. Tiveram nove filhos: José, Manoel, João, Eduardo, Antônio, Teodora, Josefa, Maria Incor e Maria Nega.
Em 1956, Cego Oliveira adoece de paratifo (infecção intestinal bacteriana), sem poder trabalhar e com a família passando necessidade, quase sem ter o que comer , José, que herdou do pai a cegueira e o dom, pega a rabeca e segue para a feira com a ajuda de Antonio Tenório, amigo da família, a fim de conseguir uns trocados para o sustento, e foi assim, que pai e filho começaram a compartilhar a rabeca e os versos.
No inicio dos anos 60, o rádio invade os lares e os repentistas e cantadores tomam conta dos programas. Através do rádio, foi divulgado a poesia de Patativa do Assaré, e a rabeca do Mestre Oliveira, se torna um membro a parte, pois só tocava no rádio quem era famoso e só ficava famoso quem cantava no rádio.
Rosemberg Cariry e outros jovens da época promovem eventos para divulgar a cultura da região. Em 1969, Cego Oliveira e outros populares são convidados por esses jovens, a se apresentar em um encontro cultural que acontece no Seminário da Sagrada Família, no Crato.
Em 1972 é chamado para a manifestação “Baião de dois”, organizado pelo mesmo grupo. Em 1974, criam o grupo “Artes por exemplo” e promovem o “Salão de Outubro”, que acontece por vários anos no Crato.
Em 1975 a cineasta Tania Quaresma está gravando o filme “Nordeste: cordel, repente e canção”, então, vai até Juazeiro procurar o “Cego da rabeca” e em novembro desse mesmo ano, Cego Oliveira Viaja para o Rio de Janeiro, onde se apresenta na Rádio Globo, concede várias entrevistas e gravam o disco com as músicas do filme, o que foi importantíssimo para a divulgação da música do Mestre Cego.
Em 1979 surge o “Grupo Siriará de Literatura”, liderado pelo jornalista Rogaciano Leite Filho, e juntamente com o Grupo Nação Cariri, criado por Rosemberg Cariry, organizam uma noite cultural no Teatro José de Alencar, chamada “Canto Cariri”, onde se apresentam cerca de 40 artistas populares do Cariri, entre eles: Cego Oliveira, Patativa do Assaré e Irmãos Aniceto.
Em outubro de 1980 acontece a 2ª edição do “Massafeira”. Durante quatro noites, nomes como Fagner, Ednardo, Belchior e Amelinha, encabeçavam o chamado “Pessoal do Ceará”, que lutavam pela ascensão da música nordestina no mercado de discos do país. Mestre Oliveira foi chamado para cantar, mas devido às dificuldades financeiras que os organizadores enfrentavam, só recebeu metade do cachê. Não só o Mestre Cego, mas outros artistas caririenses tiveram seus caches reduzidos. Sem saber se iriam se apresentar na segunda noite do evento, Rosemberg Cariry, o responsável pelo grupo de artistas do Cariri, se reúne com eles na frente do Teatro José de Alencar, sem saberem o que fazer. Nisso, alguém da banda Cabaçal toca seu instrumento, os demais acompanham. Mestre Oliveira e os emboladores, pelo meio da praça, formaram uma roda. Mestre Severino arranha o Berimbau. O Padre Àgil e sua orquestra de 40 pessoas começam a tocar. O povo do reisado e do pastoril começam a dançar e cantar, e assim, aconteceu o “Show na Praça”.
Em 22/11/1980 falece, aos 89 anos de idade, Dona Anunciada, esposa do Mestre Cego, o que o deixa em profunda tristeza.
Em 10/10/1981, casa-se novamente com uma prima chamada Maria José. Ele com quase 70 anos e ela com 43.
Em 28/11/1982, participa juntamente com seu filho Zé, do evento promovido pela rádio Universitária FM e Jornal Nação Cariri, “Canto Popular, concertos & cantorias”, na concha acústica da UFC.
Em 1989 vem a Fortaleza, a convite da Cariri Discos, para gravar o álbum “Cego Oliveira – Rabeca e Cantoria”. Nessa ocasião, pede ao amigo Rosemberg Cariry que o leve para “ver” o mar. Rosemberg Cariry filma esse encontro do Mestre com o mar, o que resultou, juntamente com outras imagens que ele filmara, no filme: Pedro Oliveira – O cego que viu o mar, finalizado em 1999.
Em 1995 a historiadora Lucila Meirelles, filma “Cego Oliveira, no sertão do seu olhar”, o que lhe rende ótimas críticas e em 1999, o vídeo é solicitado pela Universidade de Berkeley, Califórnia, para debate junto a alunos de comunicação.
Mestre Oliveira faleceu no dia 19 de janeiro de 1997, aos 85 anos de idade, às duas e meia da tarde, na sua casa no sitio Cipó, contando com o alento somente da esposa, um filho e alguns poucos amigos e parentes. Somente 15 dias depois, é que a imprensa tomou conhecimento e noticiou sua morte. Seu corpo está sepultado no cemitério do Socorro, em Juazeiro.
Para o Mestre, a “televisão” e a fama só lhe trouxeram problemas, pois o “ganho” era muito pouco, não dava para o sustento da família, e ao cantar nas feiras e nas ruas, como sempre fez, as pessoas não queriam mais ajudá-lo com doações, pois diziam ser ele “rico”, não precisava das doações pois cantava no rádio e aparecia na televisão.
Referências: Cego Oliveira, o cego cantador – Eugenio Leandro – Edições Demócrito Rocha
Jaqueline Aragão Cordeiro
https://youtu.be/wRsFRTjwd7s