Em 26 de junho de 1862 foi aprovada no Brasil uma lei determinando que o sistema de pesos e medidas então em uso, seria substituído em todo o Império pelo sistema métrico francês, na parte concernente às medidas lineares de superfície, capacidade e peso. O novo sistema, entretanto, só entrou em vigor em 1872, com a promulgação do Decreto Imperial de 18 de setembro.Mas apesar dessa exigência legal permaneceram em uso no país os sistemas tradicionais de medidas expressas em palmos, jardas, polegadas ou côvados, e o peso das mercadorias calculado em libras e arrobas.
Além delas, havia ainda no Brasil, em 1874, uma grande variedade de outros pesos e medidas, tais como a braça, a légua, o feixe, o grão, a onça, o quintal e muitos outros padrões, aos quais a população estava acostumada porque vinham sendo utilizados desde muitas gerações. Por isso mesmo, a tentativa de implantação do novo sistema métrico no país provocou revolta em diversos lugares. No estado da Paraíba, por exemplo, onde tudo começou, João Vieira, o João Carga d’Água, liderou os revoltosos que invadiram Campina Grande num dia de feira, quebraram as “medidas” (caixas de madeira de um e cinco litros de capacidade), fornecidas pelo poder público municipal e usadas pelos feirantes, e atiraram os pesos dentro do Açude Velho. Os revoltosos cresceram em número, e já então sob a liderança de Manuel de Barros Souza, conhecido como Neco de Barros, e Alexandre Viveiros, invadiram a cadeia da cidade e libertaram os presos, incendiaram o cartório local e os arquivos da prefeitura.
Da mesma forma, em mais de setenta outras localidades nordestinas o povo se rebelou invadindo as Câmaras e destruindo as medidas e os editais. Diversos motivos determinaram o descontentamento da população. Uma delas foi a cobrança de taxas para o aluguel e aferição dos novos padrões do sistema métrico – balanças, pesos e vasilha de medidas. A lei que os criara proibia a utilização dos antigos padrões, e os seus substitutos deveriam ser alugados ou comprados na Câmara Municipal à razão de 320 réis por carga. Os comerciantes, por sua vez, acrescentavam ao preço das mercadorias o valor do aluguel ou da compra dos padrões, o que encarecia ainda mais os produtos para a população. Outra razão foi a criação do chamado “imposto do chão”, cobrado dos feirantes que expunham no chão da feira as mercadorias que pretendiam vender. E uma terceira, o estabelecimento das novas regras de recrutamento, sobre as quais se dizia que não escapariam do “voluntariado” militar nem as pessoas de posses.
Agricultores, criadores de gado e comerciantes, os quebra-quilos eram vistos pelas autoridades como um “bando de matutos armados de facas e cacetes”. Como os arruaceiros gritavam frases como “viva a religião e morra a maçonaria”, as acusações de liderança do movimento logo caíram sobre a Igreja Católica, na época às turras com dom Pedro II. Dois padres chegaram a receber ordem de prisão junto a outros líderes suspeitos.
Esses líderes passaram a ser perseguidos no começo de 1875, com o crescimento da revolta. No Rio Grande do Norte, duas pessoas morreram e cinco se feriram depois de um dia de reação das forças imperiais. As tropas do governo, armadas de baionetas e espingardas, chegaram por mar, a bordo do navio Werneck, vindas do Maranhão para o Rio Grande do Norte. Os cabeças do movimento foram processados e, alguns, obrigados a restabelecer os novos pesos e medidas por eles destruídos nos mercados e feiras, e obrigaram-se a indenizar aos particulares o dano causado nos seus estabelecimentos. O ato mais ferrenho da repressão foi a aplicação dos chamados “coletes de couro”. Segundo o historiador Armando Souto Maior, “amarrados, os prisioneiros eram em seguida metidos em grosseiros coletes de couro cru; ao ser molhado, o couro encolhia-se, comprimindo o tórax das vítimas, quase asfixiando-as”. O método causou a revolta de muitos comerciantes, mas também medo – à custa do qual a medida do quilo foi finalmente implantada no Nordeste.