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Dona Marica Lessa

Jaqueline Aragão Cordeiro, 2 de maio de 201120 de julho de 2017

Maria Francisca de Paula foi a primeira filha de Francisca Maria de Paula e de seu primo, o Capitão-Mor José dos Santos Lessa. Na região, ninguém superava o Capitão-Mor em riqueza e prestígio.Maria Francisca nasceu em Quixeramobim, em dias de janeiro de 1804 e por ser a única filha mulher do casal com quatro filhos, foi criada com certa liberdade, o que motivava algumas queixas dos parentes mais íntimos. Na adolescência dividia seu tempo na fazenda ou em temporadas na vila de Quixeramobim, ali frequentava as casas das amigas ou perambulava pelas ruas para saber do dia-a-dia dos moradores e não tinha hora para voltar para casa, o que contrariava bastante aos seus familiares.

Marica, como era conhecida, não era bonita, contudo, isso não impediu que aparecesse um candidato interessado em casar-se com ela, interesse esse, talvez, pelos seus bens, mas contava com o apoio decidido do Capitão-Mor. Ela já estava com 23 anos, idade bastante avançada para os costumes da época, onde uma moça casava em média, aos 14 anos.

No dia 30 de junho de 1827, Marica Lessa casou-se na fazenda de seu pai, com Domingos Victor de Abreu e Vasconcelos, natural de Pernambuco. Não tiveram filhos, e o casal vivia em harmonia, mesmo sabendo-se que ela era a mulher e o homem da casa. Apesar de ser apenas um figurante, Domingos Victor se realizou tornando-se uma pessoa de prestígio, sendo na verdade, sucessor do sogro na vida pública de Quixeramobim: Juiz de paz, vereador, presidente da câmara, suplente de juiz municipal, coronel da guarda nacional, quando se encontrava ausente o presidente local, Cônego Antônio Pinto de Mendonça.

Aconteceu que, após muitos anos de casados, um dia apareceu na fazenda um sobrinho dele, senhorinho Antônio da Silva Pereira, foragido da justiça de sua terra, onde fora denunciado como cúmplice da morte de seu padrasto. O tio o acolheu em sua casa, deu-lhe todo apoio e através da política, procurou livrá-lo do processo.

Enquanto o problema judicial não tinha solução, senhorinho estabeleceu-se primeiramente na vila, com uma casa comercial, e depois, encerrando os negócios, fixou-se numa das fazendas dos tios. Marica passou a se preocupar mais com os problemas do senhorinho do que mesmo do marido. Discretamente mandou emissário a Pernambuco para averiguar como se encontrava o processo na justiça, e tudo mais fez para conquistá-lo. Com a subida de seu partido político ao governo, não foi difícil obter a absolvição, fato comemorado com grande festa na fazenda.

Quando ele possuía a casa comercial na vila, Marica Lessa tornou-se sua principal freguesa, depois quando o rapaz se interessou pela filha do juiz, ela não gostou, e através de críticas ferozes, procurou desfazer o namoro. Convidava-o frequentemente para passeios, festas nas fazendas vizinhas e outros eventos, com a finalidade de tê-lo sempre ao seu lado. Em pouco tempo o pessoal da fazenda passou a fazem comentários maldosos, mas o jovem não dava mais atenção ao tio que lhe dera a mão. Este, assistia a tudo impassível e parecia não acreditar no romance da esposa com o sobrinho. Só veio a ter certeza quando um dia no campo, viu e ouviu um grupo comentando sobre o caso à beira de uma cacimba. Foi a certeza do fato, e tão fraco era Domingos, que pensou em suicídio em vez de reagir forte e decidido contra os adúlteros. Teve porem, mais tarde, a altivez de expulsar o sobrinho de casa.

O ambiente na fazenda foi ficando cada vez mais hostil para o Cel. Domingos Victor, pois a esposa e o sobrinho contavam com o apoio de alguns agregados da propriedade. Este, simulando uma doença, foi até a capital procurar o Sen. Thomaz Pompeu de Souza Brasil, seu chefe político para tratar do desquite e pedir garantias de vida ao chefe de polícia. O vigário da paróquia tentou, em vão, uma trégua dele com a esposa, mas esta mostrou-se revoltada quando soube que o marido fora a capital providenciar o desquite e não para tratamento de saúde.

Retornando de Fortaleza e não sentindo mais segurança na fazenda, Domingos Victor resolveu ficar na casa da vila a polícia passou a protegê-lo. Enquanto isso, Marica Lessa planejava uma maneira de matar o marido, seu primeiro pensamento foi contratar os serviços de um protegido seu acusado de matar a esposa por ciúmes, expôs seu plano ao criminoso e entregou-lhe um punhal que foi de seu avô, o assassino prometeu executar o plano, mas fraquejou, pois o Cel. Domingos Victor jamais havia lhe feito mal algum, devolveu então, o punhal e o dinheiro a Marica Lessa.

Marica tinha fama de caridosa e benfeitora, e assim, tinha na sua fazenda um retirante da seca de 1845, de nome Antônio Silveira da Natividade, que se tornou seu amigo e compadre. Vendo-a enfurecida com o fracasso do primeiro mandante, este se ofereceu para executar o plano, porém, não iria fazê-lo pessoalmente, mandou então, Marica chamar um escravo conhecido por Corumbé, que aceitou a missão. Seguiram os dois a cavalo para a vila, ficando Antônio Silveira na casa de uma protegida de Marica, enquanto Corumbé seguiu para a casa do Cel. Domingos Victor, que estava na sala, diante de um espelho aparando a barba, ao vê-lo, vira-se o Coronel para guardar a tesoura na gaveta quando Corumbé o apunhala pelas costas. Tendo morte quase imediata, teve ainda tempo de gritar para a cozinheira da casa, apavorada, esta grita por socorro, logo aparecendo várias pessoas, inclusive o vigário, que retirou o punhal da vítima e o ouviu dizer o nome de seu homicida, antes de morrer.

Não foi difícil prender Corumbé, que todo vestido com roupa de couro, tinha dificuldade para se locomover, e preso, logo confessou o crime, dizendo que Marica Lessa havia sido a mandante. Quando a notícia de sua prisão se espalhou pela cidade, Silveira tratou logo de fugir e nunca mais foi encontrado pela polícia.

O sepultamento do Cel. Domingos Victor foi realizado naquele mesmo dia, 20 de setembro de 1853, uma terça-feira.

Após o crime, uma escolta sob a chefia do delegado, Cel. Miguel Alves de Melo Câmara, partiu imediatamente para a fazenda Canafístula, a fim de prender Marica Lessa, esta, vendo-se cercada pela tropa, recomendou às serviçais que lhe preparassem roupas para uma semana, certa de que seu prestígio e riqueza a livrariam das acusações. Marica e o amante entraram na vila escoltados, por volta de cinco horas da tarde do dia 21 de setembro de 1853, em seguida, conduzidos a cadeia local, onde já se encontrava Corumbé. Processados, eles foram pronunciados no dia 28 de outubro daquele mesmo ano, no dia 8 de novembro, eles davam entrada na cadeia pública de Fortaleza.

O julgamento só veio a acontecer nos dias 14 e 15 de abril de 1856, isso porque, marcado para 16 de outubro de 1855, ocorreu uma fuga em massa de 23 presos da cadeia pública, entre eles Corumbé. Comentava-se que o plano havia sido planejado por Marica Lessa e o amante, para evitar a presença de Corumbé no júri, onde certamente a acusaria de mandante. Este acontecimento atrasou o julgamento até o ano seguinte, quando Marica Lessa estava com 52 anos de idade e foi condenada a 30 anos de prisão. Senhorinho Antônio da Silva Pereira foi julgado dia 19 de abril do mesmo ano, sendo condenado a 4 anos de prisão, aos 37 anos de idade. Corumbé foi recapturado em junho de 1861 na fazenda da cunhada de Marica Lessa e submetido a julgamento em 5 de abril de 1862 e depois em 12 de novembro de 1864, não se sabe ao certo, mas acredita-se que Corumbé tenha terminado seus dias no presídio de Fernando de Noronha.

Acredita-se que tanto Marica Lessa quanto senhorinho, foram defendidos pelos melhores profissionais da época. Logo após o crime , ela foi se desfazendo de suas propriedades para arcar com as despesas de advogado e outros gastos com a justiça, e em pouco tempo nada mais restava do que herdara de seu pai. Logo após o julgamento teve uma grande decepção, pois o senhorinho Antônio da Silva Pereira, conseguiu da justiça imperial, o direito de cumprir sua pena na prisão de Belém, no Pará. Maria Lessa sempre se disse inocente, e ao ser solta, semienlouquecida e sem recursos, perambulou pelas ruas de Fortaleza até morrer como indigente.

Essa história virou um livro escrito por Manuel de Oliveira Paiva.
Leia mais sobre o livro aqui
Fonte: Revista do instituto do Ceará

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