Quando vivemos uma tarde de clima frio e úmido apossa-se de nós a lembrança dos dias vividos na infância, só quem vive no sertão entende o valor de um dia de chuva.
A sensação de êxtase acontece logo ao sinal da primeira chuva, as nuvens escurecem e fecham o céu azul, os trovões ressoam no horizonte, é sinal de que a chuva está chegando.
À medida que vão caindo os primeiros pingos de chuva considera-se inaugurada a nova temporada de chuva e o sertanejo, que sofre com a seca, vê o seu gado definhando por falta de uma ração farta, festeja aquele momento como que hipnotizado pela alegria e toma banho na chuva, lambuza-se no meio da lama, seus vizinhos gritam eufóricos comemorando, outros soltam fogos numa alegria indefinível.
Antes das chuvas uma grande esperança, novenas e fervorosas orações ao querido São José, na chegada daquelas o agradecimento, a preocupação em juntar água, encher todos os recipientes possíveis, depois da chuva a festa, o louvor que advém da comunidade, a preocupação com as plantações e o trato com a terra visando a uma boa colheita.
Só quem viveu a infância no sertão tem conhecimento da alegria que a chuva traz e regozija-se por ver o pai, os avós, os tios, todos imbuídos de um mesmo prazer que é trabalhar nas plantações.
As crianças, talvez, ainda, nem saibam o verdadeiro valor daquelas chuvas, mas brincam na lama, correm de um lado para outro numa alegria sem fim, vão às casas dos parentes, ficam todos molhados no banho da calha da igreja.
Depois da festa pela comemoração da chuva as famílias se reúnem, emocionados para analisarem a graça mandada por Deus de ver, mais tarde, os campos pintados de verde, a cachoeira roncando com a caída das águas arrasando tudo que tem pela frente.
O rio que só tinha areia fofa, agora, com água em abundância. Logo chega a notícia de que os açudes transbordaram. É a festa que contagia o povo do meu sertão.
Colaboração: Lúcio Martins Ximenes Júnior