A Legião da Cruz foi instalada no povoado Varjota, município de Ipu, em 12 de setembro de 1897, como extensão da legião existente em Riacho dos Guimarães, em Sobral.
Seu objetivo, como reza o regulamento, era sustentar e defender a igreja de Deus na pessoa do papa João XIII e arrecadar coletas e esmolas em favor do papa que seriam remetidos ao diretório da Legião da Cruz em Juazeiro do Norte. O regulamento dizia ainda que podia sustentar-se com o suor do rosto e força dos braços de seus associados e defender o papa, a quem Deus deixou como rei e senhor de todos. No regulamento lia-se também que a Legião era perseguida pelo clero cearense, com exceção somente de nove bispos brasileiros e pelo arcebispo da Bahia, D. luiz Antonio dos Santos, já então falecido.
O prestigio da Legião cresceu dia a dia de forma espantosa, e em pouco tempo contava com numerosos adeptos fervorosos e intransigentes, todos certos dos fins úteis e sagrados de sua congregação. Durante dois anos, cresceu vertiginosamente até que um fato interrompeu essa ascensão.
Chegou ao conhecimento das autoridades de Ipú, que os chefes da Legião armavam seus adeptos com a intenção de assassinar o Cel. Antonio Nogueira Borges e em seguida incendiar sua casa, pois o referido coronel aconselhava o povo a abandonar a falsa irmandade constituída pela Legião da Cruz. Um inquérito foi aberto para apurar os fatos.
Depois das investigações, o promotor denunciou Antonio Clarindo Campello Veado e Antonio Martins Brandão. Antonio Clarindo era tesoureiro da irmandade, e explorando a boa fé da população, fazendo sermões, induzia o povo a segui-lo em suas arbitrariedades fazendo-os acreditar que era “um enviado de Cristo”.
Com a prisão de Antonio Clarindo, foi encontrado em seu poder diversos livros referentes a irmandade, os quais mostravam, dizendo ele, recebia ordens do Papa. Dentre os documentos apreendidos, tinha o livro caixa que mostrava haverem recebido do povo alta soma em dinheiro; registro dos associados nas diferentes freguesias; atas das reuniões e diplomas a serem dados aos sócios pelo diretor da Legião de Juazeiro, que diziam ser Padre Cícero. Tinha também um livro referente ao “Apostolado do Sagrado Coração de Jesus”, sociedade fundada a mando de Antonio Clarindo, por suas irmãs, com o intuito de atrair cada vez mais a atenção dos crédulos para mais facilmente lhes extorquir dinheiro.
Antonio Clarindo e Antonio Martins foram indiciados por estelionato em 03 de junho de 1899. Os réus constituíram advogados que utilizaram de todos os artifícios jurídicos até que finalmente o júri os considerou inocentes, mas era tarde para a Irmandade da Cruz, que não suportou o forte abalo da queixa contra seus administradores e acabou, tão rapidamente como começou.
Fonte: Revista do Instituto do Ceará – Um pouco de história (Cronica do Ipú)
Jaqueline Aragão Cordeiro