O Maracatu é a mais tradicional dança dramática de origem afro-brasileira presente na cultura do povo cearense, mostrando um ritmo dolente e compassado, configurando um cortejo formado por baliza, porta-estandarte, índios brasileiros e nativos africanos, negras e baianas, negra da calunga, negra do incenso, balaieiro, casal de pretos velhos, pajens, tiradores de loas, também chamados de macumbeiros, e batuqueiros, em reverência a uma rainha negra e sua corte real. No Ceará, o povo caboclo usa uma mistura de fuligem, talco, óleo e vaselina em pasta para tingir o rosto de negro, prática adotada por todos os brincantes, à exceção do cordão de índios.
O ritmo do maracatu cearense é apresentado por um grupo de percussão no qual incluem-se tradicionalmente caixas, utilizadas sem esteira para acentuar a batida grave, surdos, bumbos, ganzás, chocalhos e triângulos, também chamados de ferros, confeccionados com molas de transporte pesado, o que lhes confere um timbre característico e uma sonoridade acentuada, destacando-se dos demais instrumentos. A partir da década de 1990, alguns grupos incluíram outros instrumentos e novos estilos para marcar o batuque do maracatu cearense, tornando o cortejo carnavalesco mais rico e diversificado. O macumbeiro ou tirador de loas é quem canta as loas ou toadas, nas quais são geralmente enfocados temas ligados à cultura, à religião e à história da África e do Brasil.
Oriundo das coroações de Reis do Congo, acontecidas a partir do século XVIII nas igrejas de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos espalhadas por Fortaleza e cidades interioranas como Sobral, Icó, Aracati e Crato, os maracatus foram descritos pelo escritor Gustavo Barroso em seus desfiles pelas ruas da capital cearense ao final da década de 1880. Conforme registrado no livro Idéias e Palavras, existiam os maracatus do Morro do Moinho (Arraial Moura Brasil, por trás da Estação Central), do Beco da Apertada Hora (atual rua Governador Sampaio), da rua de São Cosme (atual rua Padre Mororó), do Outeiro (Aldeota antiga, atual região do Colégio Militar) e o do Manoel Furtado.
O maracatu chegou ao carnaval, desfilando oficialmente como agremiação carnavalesca, em 1937, através de um convite feito pelo então Rei Momo Ponce de Leon ao Maracatu Az de Ouro, fundado em 1936 por Raimundo Alves Feitosa, compositor e tirador de loas também conhecido como Raimundo Boca Aberta.
A partir da década de 1950 surgiram outros grupos como Estrela Brilhante, Az de Espada e Leão Coroado, agremiações de grande destaque nos desfiles carnavalescos, contribuindo com a riqueza de seus cortejos para a consolidação do maracatu como uma das mais importantes expressões artísticas e culturais do povo cearense.
A história do carnaval em Fortaleza registra um expressivo número de grupos, muitos deles extintos, como é o caso dos maracatus Rancho Alegre, Nação Africana, Rei de Espada, Rei dos Palmares, Nação Uirapuru, Nação Gengibre, Nação Verdes Mares e Rancho de Iracema.
Atualmente participam do carnaval de rua os maracatus Az de Ouro, Rei de Paus (fundado em 1960, com o nome de Ás de Paus), Vozes da África (fundado em 1980), Nação Baobab (fundado em 1994), Rei Zumbi (fundado em 2001), Nação Iracema (fundado em 2002), Kizomba (fundado em 2003), Nação Fortaleza (fundado em 2004), Axé de Oxóssi (fundado em 2005), Solar (fundado em 2006) e Rei do Congo (fundado em 2009).
Fonte: Calé Alencar (calealencar@terra.com.br) cantor e compositor cearense idealizador do Maracatu Nação Fortaleza.
Jaqueline Aragão Cordeiro