Em 22 de janeiro de 1923, saíram de Cuba dois aparelhos, ambos empreendiam a Raid (viagem através de uma região ou pais) Havana – Rio de Janeiro – Buenos Aires. O primeiro hidroavião era tripulado pelos jovens alemães Hermann Mueller, 27 anos, e Werner Junkers, 21 anos, este último, filho do fabricante do avião que levava seu nome, o outro por Willy Thill. Infelizmente Willy sofreu um acidente na bacia do Marajó, no Pará, onde perdeu a vida e um dos hidroaviões. Contudo, Hermann e Werner não se deixaram abater e prosseguiram com sua incursão. Passariam por São Luiz (MA), Camocim e Aracati, dali, rumariam para o Rio Grande do Norte e depois Recife.
No dia 25 de junho de 1923, passou por Camocim o “Junkers D. 218”, com Hermann e Werner. No dia 24, exatamente as 12:20 hs, sobrevoou Fortaleza, o povo transbordava alegria e acenava com as mãos. Nas proximidades do Armazém Frota Gentil, foi lançado do hidroavião um envelope. Populares recolheram, e diante do entusiasmo não quiseram saber quem era o destinatário e o abriram. Ali tinha uma mensagem do Prefeito de Camocim que dizia: “Ao Sr. Prefeito de Fortaleza(Adolfo Siqueira) e ao povo da capital do estado, o prefeito de Camocim saúda e recomenda os bravos tripulantes do Junkers D. 218. Camocim, 25 de junho de 1923. a) Francisco Nelson Pessoa Chaves”.
Às 1h30min, o hidroavião descia no Jaguaribe, em Aracati. Poucas vezes se viu tanta gente reunida como naquele dia. Quase toda a população se deslocou para as margens do rio para ver de perto o avião e os dois jovens. Calculou-se que ali houvesse 10 mil pessoas.
A permanência em Aracati foi de apenas duas horas, Hermann e Werner tinham pressa, pois desejavam o Cabo São Roque ainda com a luz do dia. Não aceitaram sequer, alimentação, e as 3h25min, o Junkers D. 218 levantava vôo. Diante do olhar atônito da multidão, ao tentar fazer uma curva, o avião se precipitou no solo, ouviu-se uma forte explosão, seguida de um incêndio devorador. A água não surtiu efeito e o povo valeu-se de areia, ali abundante, para controlar as chamas. Quando o fogo se extinguiu, em meio ao que restava do Junkers D. 218, estavam os corpos carbonizados dos dois jovens pilotos. Dentre os poucos pertences que conseguiram resistir as chamas, estava o relógio de Hermann, o qual marcava a hora exata do desastre: 3h27min. Tudo indica que a causa da tragédia fora a hélice que se quebrou, pois um dos seus pedaços foi encontrado distante do local onde caiu o avião.
O prefeito municipal, Cel. Antonio Leoncio, decretou feriado por dois dias, em sinal de pesar pelo trágico acontecimento. Os corpos dos aviadores foram expostos no edifício Legislativo de Aracati, sendo velados por grande parte da população, durante o resto da tarde e toda a noite. No dia seguinte foram sepultados no Cemitério São Pedro.
Um ano e pouco depois, erigia-se em Aracati um monumento aos dois jovens, financiado por um grupo de admiradores e com a colaboração das colônias alemãs de Belém, São Luis, Fortaleza e Rio de Janeiro. Na entrada da cidade, na rua Conselheiro Liberato Barroso, foi levantada uma coluna de mármore branco, da Itália, com três metros e meio de altura, onde se lia a seguinte frase em alemão e português: “A memória dos aviadores alemães que morreram aqui no vôo Cuba-Rio de Janeiro – Werner Junkers, Hermann Muller e Willy Thill”.
No dia 14 de agosto de 1942, durante a segunda grande guerra, no momento da partida para Fortaleza da primeira turma de reservistas aracatienses, algumas pessoas exaltadas, demoliram a coluna de mármore, protestando contra a Alemanha de Hitler. Naquele momento, esqueceram o que significava aquela coluna na história da aviação e o sacrifício de Hermann e Werner.
Fonte: Revista do Instituto do Ceará – Primeiro desastre de aviação no Ceará
Jaqueline Aragão Cordeiro