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Jaqueline Aragão Cordeiro
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A Revolta Popular Armada de 1912 contra a oligarquia Aciolina

Jaqueline Aragão Cordeiro, 27 de fevereiro de 201919 de dezembro de 2024
Nogueira Acioly

Do dia 21 ao dia 24 de de janeiro de 1912, a população de Fortaleza, impossibilitada de derrotar o déspota Nogueira Acioly pela via eleitoral em razão do controle fraudulento das eleições, conseguiu deporta-lo, depois de 16 anos encastelado no governo do Ceará (1896-1912), através das armas. Foram três dias de luta na cidade, com tiroteios, trincheiras, barricadas, praças depredadas, bondes virados, fábricas incendiadas e centenas de mortos.

O nepotismo do velho Acioly não tinha limites, um de seus filhos era o 1º vice-presidente, dos três representantes do senado, um era seu filho e o outro, genro, além dos inúmeros empregos públicos dados a um grande número de parentes. Apesar da imprensa do país inteiro fazer severas críticas a isso, nada acontecia para acabar com esses desmandos.

Vicente Antunes da Paz – Participante da revolta de 1912

Essa inédita revolta popular armada em Fortaleza foi a explosão de uma indignação crescente contra o autoritarismo e desmandos da oligarquia aciolina. Para se manter no poder por tanto tempo, a oligarquia contou com o apoio político do Governo Federal e de coronéis do Interior (a “política dos governadores”), e usou e abusou da fraude eleitoral, voto de cabresto, nepotismo, desvios de verbas, espancou adversários, empastelou jornais oposicionistas e reprimiu trabalhadores, como foi o caso em que a polícia disparou contra os catraieiros que ousaram fazer greve em 03/01/1904, matando sete e ferindo 40.

A partir dessa chacina, a oposição política à oligarquia cresceu na Capital reunindo oligarquias dissidentes, profissionais liberais, comerciantes, populares e intelectuais como Rodolfo Teófilo, João Brígido e Antônio Sales.

Passeata das crianças

O decisivo apoio do “salvacionismo” (1911), campanha encabeçada por militares e civis para moralizar a política brasileira e “salvar” os estados do arbítrio das oligarquias então no poder, encorajou a oposição a lançar o militar salvacionista Franco Rabelo às eleições de 1912 para o governo estadual, contra o candidato indicado por Accioly.

A escolha do Cel. Marcos Franco Rabelo não foi aleatória, o povo o admirava por vários motivos, mas os mais destacados eram: o fato de ser genro do Gal. Clarindo de Queiroz, de quem todos tinham ótimas recordações; fora professor da escola militar e se fez conhecer por seu caráter e integridade, e finalmente, porque era um militar quase civil, devotado aos estudos e pacificidade.

Odele de Paula Pessoa – Liga feminista pró candidatura de Franco Rabelo (Faleceu em 01 setembro de 1928)

A campanha pró-Rabelo estimulou a insatisfação da população e a mobilizou através de comícios, cordéis e panfletos. Duas grandes passeatas foram realizadas (as primeiras da história cearense) com milhares de acompanhantes: as das moças e das crianças. Na primeira, dia 14/01/1912, nenhuma repressão ocorreu, mas na passeata das crianças, no dia 21/01/1912, surpreendentemente, a cavalaria policial investiu sobre a massa, pisoteando, atirando e matando várias crianças.

Os populares e pais de família que assistiram a tamanha violência, não se contiveram, e sacando de suas armas, começou o fogo cruzado. Os soldados atiravam contras os adultos e contra as crianças, os populares atiravam contra os soldados, muitos caiam de seus cavalos, feridos e mortos. Foi um tenente do exercito, João da Costa Pinheiro, que atravessando-se de braços abertos na frente da cavalaria, e com dificuldade, conseguiu parar a matança, que ficou sendo a página mais negra da política do Ceará.

A noite desse dia foi razoavelmente calma, os pais estavam chorando a morte de suas crianças, mas na manhã do dia seguinte, dia 22 de janeiro, iniciou-se a grande luta que só terminaria no dia 24. Durante esses dias, o comércio manteve-se fechado como forma de protesto contra a ação da polícia.  Os negociantes reuniram-se em assembleia geral no edifício da Associação Comercial e logo cedo, levantaram barricadas. O tráfego de bondes foi paralisado.

A polícia ficou concentrada, maior parte, no palácio da presidência, e o restante na Secretaria da Justiça, na Intendência Municipal e no edifício da Assembléia. A Praça do Ferreira foi ocupada pela cavalaria. No resto da cidade não havia policiamento. Por volta das 13 hs, alguns praças de aventuraram a combater contra as barricadas da Rua Formosa (atual Barão do Rio Branco), mas foram recebidos com grande tiroteio, e logo receberam ordem para recolher.

O primeiro ataque foi a Delegacia Fiscal, onde os negociantes, líderes deste levante, José Carvalho e o farmacêutico Joaquim Holanda, após a fuga dos poucos policiais presentes, tomaram posse das armas ali abandonadas. O segundo ataque foi a Cadeia Pública, alguns policiais fugiram e outros foram presos pelos revoltosos. A fim de evitar a fuga dos condenados ali presos, populares fizeram a guarda da cadeia.

Com a conquista desses prédios, aumentou um pouco o número de armas para os populares, que não dispunham de armas nem munição. Portadores foram enviados a vários lugares pedindo balas e rifles, e na tarde do segundo dia, o reforço começou a chegar.

Na noite do dia 22, parou o tiroteio, depois de desarmarem a guarda da Alfândega, os patriotas foram descansar. As 6 hs da manhã do dia 23, recomeçou o tiroteio que ficou bem mais intenso a partir do meio dia, quando começaram a chegar reforços de fora. Por volta das 15 hs o governo pediu ajuda federal. Talvez Acioly achasse que com as forças federais combatendo, sufocaria o movimento, mas isto não aconteceu, e o povo declarou que só pararia com a renúncia do “Babaquara”. Os soldados aquartelados já sofriam com fome e sede.

Após a renuncia, Acioly embarca para seu exílio no Rio de Janeiro

Chegou do Acarape, um trem com muitos combatentes liderados pelo Major Francisco Chagas, que reforçou bastante o grupo dos patriotas, e a meia noite do dia 23, o tiroteio era violentíssimo. Na madrugada do dia 24, Acioly viu quer não seria mais possível resistir, assim, chamou ao Palácio o Cel. José Faustino e solicitou a intervenção federal, porém, essa solicitação não podia ser atendida pois somente ao poder central competia tal decisão.

Ao raiar do dia 24, o número de combatentes era muito maior, até crianças e adolescentes faziam parte do grupo dos patriotas. Todos as portas se abriam para socorrer os patriotas feridos e lhes dar alimento. O ataque definitivo ao palácio do governo estava marcado para as 9 hs da manhã, mas as 7 horas já tremulava uma bandeira branca no velho casarão. Estava feito, Acioly entregou sua renuncia, a vitória foi do povo.

Franco Rabelo

O resultado da eleição foi esmagador: Franco Rabelo (1.491 votos) – Bezerril Fontenele (208 votos). Em todo o Ceará, Franco Rabelo teve mais de 3/4 dos votos, e assim, foi eleito. Sua vitória foi intensamente festejada na cidade, mas, dois anos depois foi deposto por intervenção federal no Estado. Daí em diante, apesar de continuarem a existir grupos oligárquicos no Ceará, não houve mais oligarquia monolítica no Estado.

Fonte: Jornal O Povo / Livro Fortaleza e a Belle Époque (Sebastião Rogério Ponte) / A revolução de 1912 no Ceará , Hermenegildo Firmeza, Revista do Instituto do Ceará
Jaqueline Aragão Cordeiro

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