Na noite de 18 de dezembro de 1882, na chácara de José do Amaral, no Benfica, reuniram-se a fim de convocar a valentia das mulheres para uma sociedade contra a “mancha negra”. A força feminina seria fundamental para a causa. Levantou-se José do Patrocínio e disse: “É preciso fazer da fraqueza da mulher o mais forte de todos os poderes, a evangelização pelo encanto, a libertação pela magia de sua graça”. E fundaram a sociedade das Cearenses Libertadoras.
Foi aclamada uma diretoria provisória: Maria Tomásia, Carolina Cordeiro, Luduvina Borges, Jacinta Augusto Souto, Elvira Pinho, Eugênia Amaral, Virgínia Salgado, Jovina Jataí, Branca Rolim, Francisca Nunes da Cruz, Jesuína de Paula Pimenta, Maria d’Assunção dos Santos Castro, Maria Teófilo Martins, Stefânia Nunes de Melo, Marieta Pio de Castro, Narina Martins de Sá e tantas outras. Eram mulheres apaixonadas pela causa que antes fora de seus maridos, ou irmãos, pais… Nas reuniões, 50 moças vestidas de branco simbolizavam os municípios onde ainda havia escravos a serem libertos. Numa ocasião, Carolina Cordeiro tirou seus brincos de brilhante, anéis, colar de pérolas, e entregou as joias como contribuição, estimulando a que as senhoras presentes fizessem o mesmo. Elas encheram o chapéu de João Cordeiro, para mais alforrias.
Quando foi criada a Cearenses Libertadoras, o salão de honra da Assembleia Legislativa estava enfeitado com flores, com a beleza das mulheres, com a vibração das almas e o suspense dos momentos majestosos, segundo escreve Raimundo Girão. Libertaram três escravos, sendo um deles a mãe de três crianças. Os discursos se sucediam na tribuna. Cada palavra era “lâmina de fogo cortante que aniquilava os últimos redutos dos escravistas”. Avante! Soavam as harmonias das bandas militares.
Saíam de família em família, de sítio em sítio, tentando conquistar novas cartas de alforria. Seguiam em grupos, entoando hinos e carregando faixas. Tomavam atitudes, entusiasmadas. A cada novo liberto, faziam passeatas, danças, recitativos, desfraldavam bandeiras e estendiam colchas coloridas nas janelas.
As senhoras da Sociedade Libertadora, percorreram vários povoados, libertando escravos nas localidades onde as pessoas acolhiam as ideias abolicionistas. Foram a Pacatuba, Baturité, Icó, Tauá, Maranguape, Messejana, Aquiráz e muitas outras. Finalmente, em 25 de março de 1884, na sala da Assembleia Legislativa, foi realizado o ato de libertação oficial dos escravos em toda a província do Ceará.
Fonte: Jornal O Povo – Coluna Ana Miranda
Jaqueline Aragão Cordeiro