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Coisa de Cearense
Jaqueline Aragão Cordeiro
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Entre histórias, cultura e os caminhos do nosso turismo, celebramos os encantos do povo cearense: saberes, curiosidades e tradições que embalam a alma do nosso lugar.

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Entre histórias, cultura e os caminhos do nosso turismo, celebramos os encantos do povo cearense: saberes, curiosidades e tradições que embalam a alma do nosso lugar.

A seca no Ceará

Jaqueline Aragão Cordeiro, 6 de julho de 201230 de junho de 2017

jornal o globo
Jornal do Brasil – 1983

CRONOLOGIA:

1605 – Pero Coelho se retira da Ibiapaba depois de perder seus bens e dois filhos vitimas da seca
1614 – A segunda seca que se tem conhecimento na história do Ceará
1645 – Sem referências
1663 a 1664 – A seca acabou com tudo, levou a população a fome extrema obrigando-os a comer qualquer coisa que matasse a fome.
1692 – Grande seca nos estados de Ceará, Piauí e Maranhão – Os índios invadiam as fazendas devastando tudo
1711 – Sem referências
1721 a 1725 – Morreu quase todo o gado das fazenda que também não produziram gêneros suficientes para alimentar a população que fugiu para a Ibiapaba e outras serras
1736 a 1737 – Sem referências
1745 a 1746 – Para sobreviverem, os índios caçavam o gados das fazendas, o governo formou “bandos” para extermina-los
1754 – Sem referências
1760 – A farinha e a carne alcançaram preços altíssimos
1766 – Êxodo para as serras e a formação de “bandos” que roubavam e matavam
1772 – Mais uma vez a seca atingiu a criação de gado

1777 a 1778 – A seca acabou com a criação de gado, que ficou reduzida a 1/8 do total, comercio de charque reduziu significativamente, sendo praticamente extinto.

1790 a 1793 – Considerada a maior seca do século XVIII. As águas desapareceram completamente, morreram o gado, os vaqueiros, os fazendeiros, os animais domésticos e selvagens. As estradas estavam cheias de cadáveres, famílias inteiras mortas de fome e sede. A população fugia do interior para os povoados do litoral e ali, eram dizimados pela peste. Pobres e ricos, igualmente, foram reduzidos a miseráveis. Consumidos pela fome, as pessoas se alimentavam de animais que jamais foram alimento humano, como corvos, carcarás, cobras, ratos, couro de bois, xique-xique, mandacaru e mandioca brava.

uma das vítimas da Grande Seca, Ceará, 1878. Foto de Joaquim Antônio Correia
Vítima da seca de 1888 – Foto de Joaquim Antonio Correia

Entre 1614 e 1692, se passam 78 anos sem que se tenha registros escritos sobre a seca, o que não quer dizer que não aconteceram.

Durante o século XVII, os fortins fundados próximo ao litoral eram os únicos pontos de referencia para o navegante. Os quarenta anos da conquista holandesa levou as famílias residentes no Maranhão a fugir para o litoral e o interior cearense e se fixaram na ribeira do rio Jaguaribe e do rio Acaraú. O rio do peixe em Aquiraz, foi ocupado pelos sertanistas da Paraíba. Começava aí, a saga do sertanejo cearense com a seca.

As fazendas que se formavam, serviam de pouso aos viajantes e as populações mestiças cresciam em torno das fazendas, de onde nasceram os povoados que se transformaram em vilas e cidades.

As últimas décadas do século XVII foram cheias de lutas pela posse de terras entre colonizadores e índios. Venceram os senhores coloniais, os índios perderam suas terras e os religiosos, o predomínio das aldeias.

Com o rigor das secas que causou a escassez de caça, os índios começaram a atacar o gado solto no campo, pois como não possuíam o senso de propriedade, entendiam que o gado solto era propriedade comum a todos os indivíduos da tribo.

Os relatos oficiais só se referem as secas depois que a população branca penetra nos sertões e os fazendeiros pedem ao rei o envio de novos escravos, pois os existentes haviam morrido de fome (1723 a 1729), os engenhos estavam em ruínas, pois o branco, proprietário português, não se dedicava ao trabalho braçal, por achar isso, um sinal de inferioridade.

seca+1877
Vítima da seca de 1877

Em 1766 o governo expediu ordem régia para que vadios e facínoras que viviam a vagabundar pela capitania e usavam a seca como desculpa para roubar e matar, se ajuntassem em povoações, repartindo entre eles, em justa proporção, as terras adjacentes, sob pena de serem considerados ladrões e inimigos da província, e como tais, punidos severamente. Em consequência dessa ordem, foram criadas as vilas de Sobral, São Bernardo de Russas, São João do Príncipe (Tauá) e Quixeramobim. Conclui-se que não era pequeno o número de vagabundos que viviam no interior. As vilas foram estrategicamente criadas à margem dos rios.

Em 1782, de acordo com informações do Cap. Gal. João Cesar de Menezes, então governador de Pernambuco, o Ceará tinha 61.408 pessoas afetadas pela seca, distribuídas em 972 fazendas e 87 engenhos. Na região do cariri, as fazendas se localizavam na ribeira do rio Icó, com 157 fazendas, e no Inhamuns, com 138 fazendas. Na cidade se Sobral até Acaraú, eram 105 fazendas.

1824 a 1825 – Houve uma tríplice calamidade: seca e fome, guerra civil (cisplatina) e a peste de varíola. Nesse ano observou-se um fenômeno botânico, o juazeiro destilava mel de suas folhas, em tal quantidade, que dava para alimentar a população faminta.  A administração pública nada fez para diminuir a desgraça do povo. Bandos armados se apoderavam das propriedades alheias, como em pleno comunismo. Os corpos dos falecidos iam ficando pelas estradas, praças, campos e ruas, sem serem sepultados, o governo mandou abrir uma vala e lá iam jogando os corpos recolhidos das ruas. Alheio a todas as súplicas, Conrado Jacob de Niemeyer, recrutou milhares de sertanejos para a guerra da cisplatina. 2.150 pessoas embarcaram em navios, desses, 412 morreram de varíola ainda nos navios, 314 foram internados em hospitais e o restante, quase todo, morreu por causa dos ferimentos de guerra ou de frio.

1844 a 1846 – A população faminta comia vegetais agrestes e sem nutrientes, e muitas vezes nocivos. Os homicídios aumentaram consideravelmente, ocasionados quase sempre, por questões de alimentos. Não achando mais o que comer, os sertanejos retiraram-se para o Cariri, as terras mais úmidas da província. A caridade da população não supria as necessidades de todos os famintos. O governo, aguardando ordens do ministério, demova demais para atender a população, que morria cada vez mais de fome e sede. As mulheres famintas, de entregaram a prostituição para receberem algum meio de sobrevivência.

1877 a 1878 – Houve uma grande seca depois de 32 anos de inverno, o governo socorreu a população criando frentes de trabalhos, a fome e a varíola mataram muitas pessoas. Os alimentos atingiram o quádruplo do preço. As estradas encheram-se de retirantes que rumavam para o litoral. A província do ceará perdeu 1/3 da população, pelo êxodo ou pela morte. A agricultura desapareceu.

1888 a 1889 – Houve uma grande seca que causou a morte de quase todo o gado e de pessoas, muitos consideraram maior que a seca de 1877, o governo nada fez para ajudar a população.

1915 – A seca desse ano foi o cenário para o livro “O Quinze”, de Raquel de Queiroz, bem com para a implantação do primeiro campo de concentração no bairro Alagadiço, em Fortaleza.O declínio da pecuária aconteceu a partir de 1920 em consequência das grandes secas dos séculos XIX e XX.

seca-de-1932
Vítimas da seca de 1932

1932 a 1933 – Durante essa seca, Lampião e seu bando centralizavam as atenções dos políticos. Padre Cícero  tinha influência política e milagrosa para os sertanejos, a irmandade do Caldeirão de Santa Cruz do Deserto atraia centenas de flagelados para os arredores de Crato.

1958 – A grande seca de 1958 expôs a calamidade da região, o governo teve que atender com obras emergenciais a mais de 500 mil pessoas. Escândalos e a indústria da seca vieram à tona.

1979 a 1983 – A grande seca de 1979 a 1983 foi considerada a maior do século XX, cerca de 3 milhões de pessoas morreram de subnutrição. A lavoura e a pecuária foram quase extintas e os reservatórios de água secaram.

Referências: História das secas – Séculos XVII a XIX, Joaquim Alves, 2003, Biblioteca Básica Cearense – Fundação Waldemar Alcântara / Notas Cronológicas de Canindé – Revista do Instituto do Ceará / Evolução histórica cearense, Raimundo Girão, 1986

Jaqueline Aragão Cordeiro

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Comments (10)

  1. joao disse:
    27 de janeiro de 2013 às 12:27

    É impressionante como nós negligenciamos essas informações, como isso está ao nosso redor e não sabemos ou sabemos, porém, dentro de uma dimensão infinitamente menor. Meus pais falam de secas onde haviam muitos corpos nas ruas, praças, calçadas e principalmente nos trilhos dos trens, onde uma grande quantidade de pessoas seguiam tentando ir para outra localidade, a pé, porém, acabavam morrendo pelo caminho. Segundo eles, era uma imagem inacreditável!! “Olha ali o filho do fulano” (o corpo), olha ali o Seu Zé, olha aquela família do sítio do fulano… todos mortos nas proximidades dos trilhos.

    Responder
    1. Jaqueline Aragão Cordeiro disse:
      28 de janeiro de 2013 às 22:01

      Era assim mesmo João. Felizmente, hoje as coisas são melhores, mas ainda são muito tristes. Para nós que vivemos aqui e temos família no interior, vemos claramente a sofrimento por causa da seca.

      Responder
  2. cupom de desconto marabraz disse:
    31 de julho de 2017 às 20:02

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    Responder
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      8 de outubro de 2017 às 19:44

      Obrigada, que bom que gostou.

      Responder
  4. curso online de espanhol disse:
    8 de janeiro de 2018 às 13:02

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    Responder
  5. filmes dublado disse:
    28 de março de 2018 às 13:45

    Ola. Grande artigo.

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    30 de abril de 2018 às 14:30

    Ola! Obrigado…Eu realmente aprendi muito.

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  7. MakeUp disse:
    10 de maio de 2018 às 15:47

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    Responder
  8. Pingback: Atualização: A seca no Ceará – Coisa de Cearense

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