Na manhã de 05 de novembro de 1850 correu em Aracati a notícia do assassinato de Joaquim Pereira Chaves, conhecido como “Coringa”. Havia sido morto de madrugada por sua mulher Luiza Felício do Nascimento e pelo negro Domiciano Francisco José. Após o crime, os dois fugiram juntos. O sub-delegado Raymundo Antunes de Oliveira mandou o perito Dr. Marcos José Theóphilo fazer as averiguações no local do crime, onde o mesmo constatou que a morte foi causada por 13 ferimentos feitos por um instrumento perfuro-cortante, e apesar de testemunhas afirmarem que a vítima tinha na fronte um ferimento parecido com corte de machado, isso não constou no laudo.
Os fugitivos foram presos na manhã do dia seguinte pelo soldado José Lopes Coelho. O menor Jacinto, filho do falecido com Luiza Felícia, declarou em seu depoimento logo na manhã após o crime, que dormia quando foi acordado por um encontrão em sua rede, então viu sua mãe e Domiciano matarem seu pai. Porém, no dia seguinte, após a prisão dos assassinos, declarou que viu Domiciano matar seu pai a facadas enquanto sua mãe corria para fora de casa, e que Domiciano o ameaçou na hora do crime dizendo: “Cale-se, senão lhe toro o pescoço”, o que o amedrontou demais e o fez ficar quieto.
No dia 8 de novembro, prestou depoimento a sra. Francisca Jacinta de Jesus, mãe de Luíza Felícia, e declarou que há um ano, mais ou menos, encontrou o preto Domiciano comento farinha no colo da filha, e ao repreendê-la por ser casada, a mesma disse que era sem maldade. Que em outra ocasião, Luíza Felícia insistiu em ir pegar lenha na várzea onde estava o negro, que já havia ido fezer tal serviço, mesmo contra a vontade da mãe, foi com a irmã, ao voltarem, vinham brigando por causa de ciúmes, pois Luiza fora sozinha onde Domiciano estava. Que em certa noite viu um homem entrando na casa da filha, e ao alerta-la, a mesma pediu que não se importasse com sua casa, e depois disso o genro e a filha ficaram diferentes com ela, então lavou as mãos, pois estava convencida que Domiciano e Luiza eram amantes.
Domiciano era solteiro e natural da Paraíba, aparentava uns 35 anos, morava há dois anos em Aracati e era carroceiro do Tenente Coronel Antonio Ferreira dos Santos Caminha. Respondendo e quatro interrogatórios, assumiu sozinho a culpa pelo crime, inocentando a amante. Declarou que matou Coringa porque o mesmo o havia ameaçado com ciúmes de Luiza, e que não tinha nenhum relacionamento com a mesma, mas sim com sua irmã. Em nenhum dos depoimentos, incumbiu culpa a Luiza.
Encerrado e inquérito, o promotor Dr. Antonio Ferreira dos Santos Caminha Júnior, ordenou a prisão dos dois. Confirmada a pronúncia pelo juiz Dr. Herculano de Araújo Sales, os réus foram mandados a julgamento. O de Domiciano aconteceu em 06 de dezembro de 1850 e foi condenado a morte, entrou com recurso pedindo novo julgamento, que aconteceu em 05 de abril de 1851, presidida a sessão pelo juiz de Russas, Dr. Antonio José Henriques, o réu foi novamente condenado a morte. Feito novo recurso para o tribunal de Pernambuco, manteve-se a sentença, apesar de falhas existentes no processo. Domiciano foi então, transferido do presídio de Fortaleza para Aracati, onde seria executado. No dia 30 de agosto de 1952, seguiu para o largo do pelourinho, algemado, sem chapéu, vestido com camisa e calça brancas, com o baraço ao pescoço, em cuja ponta segurava o carrasco. Ia olhando para a imagem de Cristo que o vigário, Padre Tito, conduzia na mão. Domiciano subiu ao patíbulo, onde ao redor se reunira grande multidão, inclusive seus pais, então pediu as pessoas que rezassem uma Ave Maria por ele, e pulou, mas a corda quebrou e ele caiu desacordado. O povo em prantos, pedia ao juiz perdão para o condenado, ao mesmo tempo em que os filhos de Coringa pediam o enforcamento do assassino de deu pai.
Não podendo ser atendida a súplica do povo, foi Domiciano reconduzido à forca, onde, pendurado com a cabeça voltada para a capela do Senhor do Bomfim, foi finalmente enforcado diante das lágrimas e lamento do povo e de seus pais. Para ter certeza que Domiciano estava mesmo morto, o comandante da guarda ainda deu três bordoadas com sua arma na cabeça do infeliz. O Padre Tito, manda então, envolve-lo em uma mortalha branca e levar o corpo para ser sepultado.
Luiza Felícia foi julgada no dia 07 de dezembro de 1850 e condenada a morte, recorreu da sentença, e por estar grávida, só foi a novo julgamento em 23 de março de 1852, sendo condenada a prisão perpétua, o qual deveria cumprir na capital da província. Depois foi transferida para Fernando de Noronha, aonde veio a falecer em data desconhecida.
Fonte: Revista do Intituto do Ceará – A pena de morte em Aracaty
Jaqueline Aragão Cordeiro
Realmente muito bom este post! Conteúdo Relevante!
Gostei bastante do site, vou ver se acompanho toda semana suas postagens ou assim que me sobrar um tempo.
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