Caso 1
Em 1744 faleceu na aldeia de Parangaba uma índia chamada Bárbara, mulher de bons costumes. O padre Rogério Canísio lhe assistiu na hora da morte e lhe administrou os sacramentos, que ela recebeu com toda humildade. 3 dias depois do falecimento, ela apareceu à Suzana da Silva, mulher do índio Manoel de Almeida, esta também, uma índia muito devota e honesta, pedindo-lhe que dissesse ao padre da missão que rezasse mais uma missa em intenção de sua alma, pois precisava para sair do purgatório. No mesmo dia a missa foi celebrada, então, estando dormindo a índia Suzana, lhe apareceu novamente a índia Bárbara vestida com uma roupa comprida que ia até os pés, de uma brancura inigualável e banhada pela glória divina, disse-lhe que agora ia ficar junto de Deus por toda a eternidade.
Caso 2
Em 1745, era superior da missão na aldeia dos Paiacus, o padre jesuíta Francisco leal. Nesta aldeia vivia uma índia em extrema miséria, então, todos os dias, o padre lhe dava o que comer, e ela, generosamente, dividia com as outras mulheres necessitadas. Com a mesma benevolência a tratou o padre Rogério Canísio, quando veio para chefe da missão desta aldeia. Em um sábado a tarde, veio esta índia até o padre e pediu que a confessasse, pediu-lhe o padre que esperasse até o dia seguinte, mas ela insistiu para que a confissão fosse feita logo e que no domingo iria fazer a comunhão, alegando que lhe restava pouco tempo de vida. Confessou-se com sinais de grande arrependimento e ao receber a hóstia no dia seguinte, rompeu em tão maravilhosos louvores a Deus e palavras de tão profunda fé e devoção, que levou às lágrimas todos os presentes. Tão grande era sua vontade de estar na companhia de Jesus, que no dia seguinte faleceu, mais de amor divino que de qualquer mazela de natureza humana.
Caso 3
Em 1744 era chefe da missão dos Caucaia, o padre jesuíta Rogério Canísio. Certo dia, antes de iniciar a missa, veio até ele um índio e pediu que o confessasse, dizendo: “Padre, conheço que a minha vida acaba, e já que o senhor é servido que eu morra, lhe dou muitas graças, e a vossa reverência peço, ajude a minha alma neste conflito”. Vendo o padre que no índio não havia nenhum sinal de doença e que se encontrava em perfeita saúde, lhe perguntou pelo motivo de assegurar sua morte estando forte e saudável. O índio então lhe respondeu que foi-lhe dado conhecimento do pouco tempo que lhe restava e queria aproveitar esse tempo para se preparar para tal jornada. Fez sua confissão com tanto sentimento das suas culpas, que bem se notava a obra de Deus naquele coração predestinado. Depois da confissão, seguiu para sua casa, distante da igreja quase 2 léguas. Passados 3 dias, foi chamado o padre Rogério para dar a extrema unção a um enfermo, chegando ao local, viu o padre que se tratava do mesmo índio. Logo que o padre se aproximou, o índio lhe disse: “Não disse eu a V. Reverência que era chegado o tempo de sair para a pátria celestial? Ajude-me a louvar ao Senhor que com esta vil criatura usa de tanta misericórdia”. Recebidos os sacramentos e com um crucifixo nas mãos, deixou este mundo entregando sua alma a Deus.
Fonte: Revista do Instituto do Ceará – De alguns índios e índias naturaes de Pernanbuco
Jaqueline Aragão Cordeiro