Artesanato do Ceará – Parte 2

ARTESANATO – O índigena, que o colonizador encontrou, já era artesão do tecido e da cerâmica sedimentar. Com a casca da aroeira tingia de vermelho os fios de algodão e as fibras de outros vegetais, e do azul que extraia de outras plantas do mato. Produzia sandálias de corda de caroá (ou croatá). Os Jesuítas, ao chegarem para proceder a evangelização da indiada, ante a habilidade manual e pendor artístico mostrados pelos nativos, sistematizaram o artesanato existente, somando-o ao da gente portuguesa, ensinando-lhe as técnicas de pintura, escultura, douração, relojoaria, ourivesaria, carpintaria, marcenaria, tecelagem, fundição etc. Com a expulsão dos jesuítas por Pombal, os índios e a descendência mameluca já haviam incorporado a sua cultura a vocação artesanal, transmitida as gerações que iam chegando. E permanecendo até hoje. E de tal forma interessante – até encantadora – que essa produção artesanal, apesar da introdução do maquinário moderno e a tecnologia em curso, permanece viva, elaborando peças que continuam sendo disputadas pelos que aqui chegam.

AS RENDEIRAS – Foi em 1748 que a Europa recebeu as primeiras rendas do Ceará. Logo tidas como de excepcional qualidade artística. Há dois séculos, portanto, que foi detectado o “natural engenho” de nossas rendeiras. Vale ir ver in loco o trabalho dessas artistas. O equipamento que elas usam é simplíssimo. Um almofadão, no qual fica pregado um cartão furado do desenho da renda que se pretende fazer, alfinetes do espinho do mandacaru, para prender a renda, e os bilros de madeira, mais três caroços de macaúba onde são enrolados os fios. Vale acrescentar que a renda difere do bordado por não ter um fundo de tecido preparado, como o bordado, que é ornamentado com fios inseridos por meio de agulhas. (Aquiráz, Acarau, Trairi, são os municípios de maior concentração das chamadas mulher-rendeira). O labirinto consiste em desfiar um pano e recompô-lo em desenhos, que podem ser “paleitão”, “caseio”, “enchimento”, “bainha” e “desfio”, trabalhos delicadíssimos, que exigem enorme esforço visual e muita habilidade artística. Aracati, Beberibe e Cascavel são, entre os litorâneos perto da Capital, os municípios que mais os produzem. Redes-do-Ceará – A rede de dormir era feita pelos indígenas, da fibra do tucum. Os colonos a incorporaram ao hábito e passaram a fazê-la tecida de algodão. Ainda hoje é produto “made in Ceará”, exportada pelo mundo inteiro e que o turista disputa e compra. Jaguaruana e Fortaleza concentram o maior número de fábricas de redes e ainda há artesãs que a fazem manualmente, com teares primitivos, em que pese a concorrência obviamente abrangente, das tecidas industrialmente.
Fotos: Arquivo pessoal
Jaqueline Aragão Cordeiro

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