Essa é a estória do cego chamado Chagas, que aqui morou no início do século XX e era náufrago do navio “Baía”, que afundou entre a Paraíba e Pernambuco. Era um homem alto e magro que vestia um camisolão de algodão branco e ceroulas amarradas nos tornozelos.
Usava um chapéu de palha de carnaúba com tranças superpostas e, no pescoço, escapulários, rosários e terços. Numa das mãos trazia um varapau de jucá e na outra um cabresto do carneiro que lhe servia de guia. Seguia-lhe um bando de caprinos que lhe obedeciam prontamente.
Chagas sentava-se nos meios-fios das esquinas e logo o canelau dele se aproximava. Tirava do alforje uma gaita de taboca, começando a tocar variados ritmos. Além do mais, modulava com a boca sons muitos engraçados que faziam a todos gargalhar. O cego era uma verdadeira orquestra.
A segunda parte do espetáculo era a demonstração dos carneiros que dançavam e obedeciam aos seus comandos. Apontava o cajado como se fora uma espingarda e fingia atirar: os carneiros se deitavam como se estivessem mortos.
E Chagas perguntava: “estão todos mortos?” E, imitando o badalar dos sinos, bradava: “ressuscita, cambada!” E a carneirada punha-se de pé, e começava a se dar marradas. Chagas, então, era aplaudido e muitas moedas choviam no seu chapéu. Chagas costumava apresentar-se nas cidades próximas e numa dessas viagens foi e não mais voltou, desaparecendo para sempre.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste / Fortaleza Belle Époque (Sebastião Rogério Ponte)
Jaqueline Aragão Cordeiro
COISA DE CEARENSE