Carta do presidente da província do Ceará, Antonio de Salles Belfort (Presidente da província do Ceará de 1826 a 1829), ao Ministro do Império, em 8 de fevereiro de 1826 (Respeitando a ortografia do narrador) relatando sobre a seca que se iniciou em 1825:
Apenas de posse do governo desta província sinto a necessidade de levar ao conhecimento de S.M.I. o miserável estado, a que se acha reduzida, implorando socorro à fim de que não fique de todo aniquilada a província.
A cidade capital do Ceará apresenta um quadro tocante e desconsolador: as ruas estam apinhadas de um sem nº de mendigos, o palacio do governo e casas dos particulares abastados constantemente cercadas desses mireraveis appresentando o expectaculo de esqueletos mirrados de fome, só cobertos de pelle, representando outras tantas imagens da morte. A miseria, a pobreza e a consternação aparecem em todos os pontos da provincia e o nº dos que tem sucumbido é incalculável.
Os principais ramos de industria, que constituem as rendas publicas e a fortuna particular, como o gado e algodão, estam quase extinctos pelas perturbações de 1824 e pela longa e flagellante secca; os cofres publicos estam exaustos sem poderem pagar as tropas e os empregados; os mesmos particulares e negociantes se acham privados, aquelles de seus bens e estes dos generos que formavam a base do seu commercio; uns estão arruinados, outros reduzidos a pobreza: a provincia, inteira falta de todo genero de exportação e necessitando de receber mantimentos de fora tem exgotado todo o numerário, que possuia; e apesar das chuvas que começam, muito tempo passará antes que sua receita possa fazer face às despezas publicas.” Conclui pedindo ajuda ao governo para atender ao povo faminto.
Fonte: Revista do Instituto do Ceará
Jaqueline Aragão Cordeiro