O dia estava quente, o sol tinindo, afinal, essa é a maior seca dos últimos 30 anos no Ceará. Tava no pingo da mei dia e os mais velhos sentaram na sombra de um juazeiro, começaram a falar sobre a escassez de água. Carlinhos, um menino de nove anos, tava de butuca ligada, botava sentido na conversa, só queria um pé pra se meter, porque o bixin é pior que pau de lata!
Seu João fazia o maior furdunço, parecia cantiga de grilo, não parava de falar um minuto sequer. A preocupação com a situação do sertanejo deixava todo mundo abilolado.
– Deixe de enxame seu João! – Dizia seu Pedro – Não precisa desse salseiro todo não, no próximo ano vai chover, se Deus quiser!
– Deus te ouça seu Pedro, senão só vai dar pra minha radiola! Esse ano meus bicho e minhas plantação papocaram com linha e nó. Tô mais liso que espinhaço de pão doce. – Disse seu Manoel todo amuado.
– Num é só você não homi – Interrompe seu Antonio – Tamo tudo lascado! Num falta só o dicumê dos bicho não, falta até pros bacurinzin lá de casa, os bixin tão parecendo mais é pau de virar tripa. – Nesse momento, o nordestino forte e corajoso, enche os olhos de lágrimas e engole seco.
– Eita negrada, a coisa tá feia. Fazia tempo que eu num via tanta mazela, a água que ainda resta só serve pra cortar sabão. Minha vontade é de chispar daqui, picar a mula, mas pra onde nois vai? O povo da cidade é tudo chei de nó pelas costa, vê nois e já vão pensando que é tudo ladrão, fica tudo olhando pra nois de revestrés.
Um grande silêncio se fez, não sabiam o que fazer. Ajuda do governo? Alguns tem, mas não é suficiente. Os animais estavam quase todos mortos, as cacimbas secaram, as cisternas secaram, só o carro pipa os socorria dois ou três dias por semana, muito pouco…
Passaram mais algum tempo conversando miolo de pote e história de trancoso, era uma forma de esquecer momentaneamente, o desespero que dominava suas almas. Seu Antonio, com olhar de peixe morto, olha pro infinito e respira fundo. Aquele foi mais um dia que nada puderam fazer para combater a miserável vida que estavam levando.
– Eita meu povo! – Grita Seu Manoel de repente – Nois é cearense da gema, sei que tamo apanhando mais que galinha pra largar o choco, mas vamo arribar a cabeça que daqui a pouco começa a chover, Deus num vai deixar nois tudin morrer de fome. Vê se tem cabimento uma coisa dessas…
E mais uma vez, a força interior do sertanejo vence a cruel realidade. O grupo se desfez, cada um tomou seu rumo, o rosto marcado pelo sofrimento e o coração transbordando de esperança, porque até o dia 19 de março, o que não falta ao povo cearense, é a esperança de um bom inverno.
Em tempo: Algumas palavras estão escritas exatamente como são pronunciadas
Jaqueline Aragão Cordeiro
Oi linda gostei muito do seu texto queria perguntar se eu posso utiliza-lo numa peça na minha escola ao mesmo tempo divulgarei seu site qualquer coisa me avise obg lindas beijus
Boa noite “anônimo”, será um prazer poder ajudar com meu texto. Favor entrar em contato comigo por email. Abraço.