A partir de 1680, o Siará passou à condição de capitania subalterna de Pernambuco, desligada do Estado do Maranhão. A região só se tornou administrativamente independente em 1799, quando foi desmembrada de Pernambuco e o cultivo do algodão despontou como uma importante atividade econômica.
Com o declínio do ciclo da pecuária no final do século XVIII, tem início um novo ciclo que transformaria a economia do Ceará e, consequentemente, a de Fortaleza: o do algodão, também chamado de ouro branco. Até então, a cotonicultura era uma atividade secundária, praticada paralelamente à pecuária. Sua produção destinava-se basicamente ao mercado do Recife. Mas com o advento da Revolução Industrial, na Inglaterra, que impulsionou a fabricação de tecidos, a demanda por algodão cresceu acentuadamente. E o Ceará passou a produzi-lo em larga escala.
Com o fluxo comercial decorrente do algodão, surgiram os primeiros estabelecimentos de negócios estrangeiros em Fortaleza. A cidade passou a receber, então, os mais variados produtos importados. O ciclo do algodão marca o início do processo de industrialização em Fortaleza, no final do século XIX, com a inauguração da Fábrica de Tecidos Progresso. Na segunda metade do século XIX, o algodão representava aproximadamente metade do valor das exportações do Ceará.
Como legado, o ciclo do algodão deixou, por exemplo, a Estrada de Ferro de Baturité, que cortava o Ceará de norte a sul, de Fortaleza ao Crato, reforçando a Capital como centro exportador e de captação de recursos estrangeiros.
O crescimento de muitas cidades do Ceará e do Nordeste está diretamente relacionado com a produção de algodão, que alcançou o auge na década de 1970. O plantio, colheita, comercialização e beneficiamento do conhecido “ouro branco”, trouxe riqueza para industriais, agricultores e ocupação e renda para os trabalhadores rurais. O desenvolvimento chegou ao campo e às cidades. Na quadra invernosa, os homens estavam ocupados no cultivo e a partir de julho, na colheita, comercialização e beneficiamento que em muitas vezes ultrapassava o mês de dezembro. Era, portanto, um ciclo econômico anual, que permanecia ativo.
Na região Centro-Sul, o algodão obteve excelente resultado. O município de Iguatu, por exemplo, chegou a ser o maior produtor do Ceará por vários anos seguidos. Havia em plena atividade seis usinas de beneficiamento. No campo e na cidade, o ciclo da cultura algodoeira gerava milhares de empregos. Nas cidades de Acopiara, Jucás, Cariús, Cedro, Orós e Icó a produção era extensiva e significativa. As cooperativas de produtores de usinas particulares alcançavam amplo desenvolvimento na região.
O Ceará, cuja área plantada de algodão hoje soma apenas 20 mil hectares (ha), já teve 1.200 milhão de ha plantados com a fibra. Isso, em pleno ciclo do “ouro branco”, na década de 70. A partir da segunda metade dos anos de 1980, o quadro sofreu profundas modificações. A chegada do bicudo, um inseto que destruiu as lavouras de algodão, a queda do preço do produto no mercado internacional e as modificações no sistema de financiamento do crédito rural para a cultura algodoeira contribuíram para a drástica redução produtiva.
No início dos anos de 1990, o sertão do Estado do Ceará passou a produzir menos de 10% em relação à colheita média anual do período de pico. Além dos fatores relacionados, teve ainda, a redução de 60% para zero da taxa de importação sobre o produto, contribuiu sobremaneira para dizimar a cultura algodoeira.
O resultado dessas transformações na economia rural cearense foi devastador. O desemprego aumentou nas cidades e no campo, a renda caiu, núcleos urbanos ficaram empobrecidos, as usinas fecharam suas portas e as antigas máquinas de beneficiamento foram vendidas para indústrias localizadas em Goiás, Bahia e em outros estados. Os esforços do Governo do Estado nas duas últimas décadas para soerguer a cultura algodoeira foram praticamente em vão. O curioso é que o Ceará dispõe de um parque industrial têxtil, que é um dos maiores do Brasil.
Em 2013, agricultores familiares da cidade de Ibaretama, a 130 quilômetros de Fortaleza, investiram na produção experimental de algodão. A experiência começou com apenas três produtores da região, cada um recebeu 20 quilos da semente. Agora, no período da colheita, o resultado foi tão bom que eles querem incentivo para plantar algodão todos os anos. Outros 200 produtores rurais de oito cidades foram convidados para uma aula de campo sobre técnicas do plantio. Mas, conseguir incentivo e preço justo são alguns dos desafios dos produtores.
O algodão é vendido para a indústria têxtil e o caroço pode ser aproveitado na alimentação de gado, principalmente, o leiteiro. A torta de algodão tem 28% de proteína e é recomendada por criadores de gado leiteiro com experiência no mercado.
Fonte: Jornal Diário do Nordeste/Regional (01/06/2009) / G1/CE (22/09/2013) / ceara.gov.br/historia-do-ceara / Jornal O Povo (10/04/2015)
Jaqueline Aragão Cordeiro