O atual município de Tianguá era parte integrante do território da Villa Viçosa Real da América, antiga aldeia tabajara chefiada pelo morubixaba Irapuã (Mel Redondo), desbravada por corsários franceses vindos do Maranhão no ano de 1590, que sob a liderança de Adolf Montbille, fundaram a Feitoria da Ibiapaba. Em 1603-1604 o açoriano Pero Coelho de Sousa e Martim Soares Moreno, patrocinados pelo Governador Diogo Botelho, expulsaram os espanhóis da cuesta ibiapabana, abrindo caminho para, em 1607, os missionários da Companhia de Jesus, Francisco Pinto e Luís Figueira, catequizarem os selvícolas da grande nação Tabajara.
Os padres Francisco Pinto e Luis Figueira foram testemunhas oculares da passagem do Cometa Halley pelos céus da Ibiapaba naquele ano (1607), fato registrado no documento “Relação do Maranhão” enviado ao superior da missão o padre Claudio Acquaviva em São Luis do Maranhão. Esse foi o 1º registro da passagem do Cometa Halley em terras do Novo Mundo. No ano de 1655, para se opor a nascente República de Cambressive estabelecida na Serra Grande por Antônio Paraupaba, que chefiava cerca de quatro mil índios protestantes remanescentes da colônia Nova Holanda, destituída após a assinatura do Tratado de Taborda firmado entre os portugueses e a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, o padre Antonio Vieira fundou a Missão Jesuítica da Ibiapaba, sob a liderança dos missionários Antonio Ribeiro e Pedro Pedroso, tendo como sede a então aldeia de Mel-Redondo, hoje cidade de Viçosa do Ceará, de cujo território Tianguá era parte integrante. O próprio padre Antonio Vieira veio visitar a Ibiapaba em 1660, tamanha era sua importância para a Companhia de Jesus e para o catolicismo.
A colonização das terras que deram origem a cidade de Tianguá (perímetro urbano) foram apossadas em 1854 a partir da 1ª Lei de Terras do Brasil (Lei nº 601 de 18.09.1850 regulamentada pelo Decreto Imperial nº 1.318 de 1854), quando o capitão português João Batista Leal, fiscal das terras devolutas junto a câmara de Viçosa do Ceará, registrou em seu nome o então sítio Chapadinha. Com a morte da esposa de João Batista Leal em 1855, as terras do sítio Chapadinha foram partilhadas entre seus herdeiros: Joaquim, Bonifácio, Manoel e Francisco Batista Leal, sendo que os dois primeiros venderam seus quinhões hereditários aos senhores Manuel Nogueira da Costa e Francisco Ferreira Lima, que juntamente com os descendentes de João Batista Leal, iniciaram o povoamento do sítio.
Manoel Batista Leal, Francisco Batista Leal, Manoel Nogueira da Costa, Francisco Ferreira Lima, o herói da Guerra do Paraguai Joaquim Frederico Kiappe da Costa Rubim (pai do Almirante Rubim) e outros, foram os primeiros moradores do povoado de Barrocão, o Cel. Manoel Francisco de Aguiar (pai do Monsenhor Agesilau de Aguiar), só veio morar em Tianguá no ano de 1878, fugindo da terrível seca que assolava o Ceará naquele ano (1877-1879).
Pela resolução nº 1280 de 28 de setembro de 1869, foi criado o Distrito de Paz na povoação de Barrocão do município de Viçosa do Ceará: “O Desembargador João Antônio de Araújo Freitas Henriques, presidente da Província do Ceará, faço saber a todos os seus habitantes que a Assembléia Provincial decretou e eu sancionei a resolução seguinte: art. 1º fica criado um distrito de paz na povoação de Barrocão do município de Vila Viçosa. art. 2º servirão de limites ao novo distrito os riachos de Guatiguaba e Tapera-Acima (…). Palácio da Província do Ceará, 28 de setembro de 1869. (a) João Antonio de Araújo Freitas Henriques – Presidente da Província”.
Em 22 de julho de 1871 o distrito foi extinto, porém restaurado em 30 de julho de 1873 pela Resolução nº 1.531. Instituído e extinto algumas vezes, teve sua condição de distrito regularizada em 1882, pela Lei nº 1.978. O município foi criado em 31 de julho de 1890, pelo Decreto Estadual nº 33, ainda com a mesma denominação de Barrocão, sendo instalado em data de 12 de agosto daquele ano. Em 9 de setembro de 1890, o município passou a chamar-se Tianguá, por empenho pessoal do coronel Manoel Francisco de Aguiar, junto ao Governador do Ceará, Luís Antônio Ferraz. A vila de Tianguá foi elevada à categoria de cidade em 1938, através do Decreto-Lei nº 448 de 20 de setembro daquele ano.
O município de Tianguá surgiu em torno de uma pequena capela católica, feita de taipa e coberta com palhas de babaçu, erigida em louvor a Senhora Santana no início da segunda metade do século XIX. O historiador viçosense Edgar Bezerril Fontenele, em artigo publicado no Jornal O Povo de 27 de novembro de 1986 diz que João Batista Leal:”edificou um salão de paredes de barro coberto de palhas de babaçu, não para festas mundanas, mas religiosas. Nele colocou um nicho com a imagem de Santana de cuja santa era grande devoto. Cotidianamente, ao cair da tarde, depois do trabalho, Batista Leal reunia no salão toda a sua família. Rezavam o rosário e cantavam a ladainha da mãe de Deus. Aos domingos lia trechos da Bíblia. Na antevéspera do dia de Santana, festejavam a data novena e leilões. Reunia grande número de fiéis para homenagear Santana. Uns construíam barracas para festa, outros faziam negócios.
Em breve Barrocão tornou-se um povoado”. No ano de 1860, Manuel Nogueira da Costa e sua esposa dona Florência da Ressurreição Viana, doaram 23 mil reis de terras ao patrimônio de Santana, e em 1886, por ocasião da criação do curato de Santana da Ibiapaba, Francisco Batista Leal, Manoel Batista Leal, Francisco Ferreira Lima, Manoel Francisco de Aguiar e suas respectivas esposas, doaram ao dito patrimônio a importância de 120 mil reis nas terras do sítio Chapadinha do Barrocão. O curato de Santana da Ibiapaba foi criado em 27 de novembro de 1886 através de provisão firmada por Dom José Joaquim Vieira, bispo do Ceará, sendo seu primeiro cura o padre José Thomaz de Albuquerque.
A bênção para a construção da capela (em alvenaria) data de 13 de maio de 1882, sendo que em 1884 os trabalhos não tinham sido concluídos, conforme ressalta o historiador Antônio Bezerra de Menezes que naquele ano empreendia viagem pelo interior do Ceará, e de passagem pelo Barrocão relatou o seguinte: “consta de poucas casas em quadro e tem uma pequena capela não concluída”. Naquela ocasião, uma imagem de Senhora Sant’Ana (com 69 cm de altura) foi trazida de Portugal para a nova capela. Com o passar dos tempos, a imagem foi substituída por outra de tamanho maior.
A paróquia de Santana foi instituída em 15 de maio de 1915 pelo bispo do Ceará Dom Manoel da Silva Gomes, cujo secretário particular era o padre Agesilau de Aguiar, que interferiu diretamente na criação da freguesia. Em 1936 Monsenhor Doutor Agesilau de Aguiar contratou com mestre Pedro Emigidio de Oliveira a ampliação da capela, que consistia na construção da torre-mor e dos torreões laterais, além da ampliação da nave central. O projeto arquitetônico foi concebido pelo próprio Monsenhor Aguiar, inspirado no prédio da Fundação Oswaldo Cruz (pavilhão mourisco) no Rio de Janeiro, que por sua vez foi inspirado no Palácio de Alhambra na Espanha. No ano de 1957 o então padre Tibúrcio Gonçalves de Paula assumiu a paróquia, mandando demolir uma parede da igreja para reformá-la. Na ocasião, foi encontrada ali a santa que havia sido substituída pela maior. A reforma empreendida por Monsenhor Tibúrcio eliminou do cenário arquitetônico de Tianguá, os últimos resquícios da primitiva capela de biqueiras coloniais construída em 1882.
Fonte: Wikipedia
Fotos: Arquivo Pessoal
Jaqueline Aragão Cordeiro