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Jaqueline Aragão Cordeiro
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O Ceará, ferreiro da maldição, por Rodolfo Teófilo (Parte 2)

Jaqueline Aragão Cordeiro, 25 de novembro de 201817 de novembro de 2018

A humanidade será sempre uma vasa infecta. Da vermineira surgem divindades. Da podridão brotam lírios imaculados. É o contraste da noite e do dia. Pasteur, São Vicente de Paulo, Jenner e São Francisco de Assis vem das trevas projetando luz!…

Cabral foi um criminoso arrancando o Brasil do desconhecido. Na comunhão brasileira, tu és o ferreiro da maldição. Tuas irmãs contam com a regularidade das estações, com a estabilidade do clima. Se não tem certas pragas que as perseguem, se não conheces o frio das geadas, a chuva de granizo, que arrasa as searas em instantes, a praga de gafanhotos, o calor que isola, tem outros flagelos devidos à anomalia de teu clima.

A tua meteorologia é anômala, como são anômalos os seres que crias em teu seio. A planta da terra das secas não tem zona própria pra nascer e viver. As famílias não escolhem terrenos, nem os indivíduos lugares. Vegetais há que vivem nas praias, tendo as vagas a beijar-lhes as raízes. Indivíduos semelhantes vegetam nas serras a centenas de metros acima do nível do mar e outros ainda vivem no alto sertão.

O homem cearense tem a mesma anomalia da planta. Materialmente é de uma resistência orgânica assombrosa. Resiste à fome, à sede como nenhum outro homem de qualquer região da terra.

Moralmente é um ser anormal, é um herói. Coloniza a Amazônia e faz a abolição do elemento servil! A jangada cearense simboliza a fraternidade humana. O jangadeiro vem do abismo, das lutas com o oceano, acostumado a fitar o espaço que se não mede, e o mar de que não vê o fim, com alma cheia de piedade, afinada pela melopeia nostálgica das vagas. O Dragão do Mar fecha o porto do Ceará aos negreiros do sul. É um monstro que tem garras, mas teo o coração de santo.

O cearense é nômade por atavismo. Abandona a terra mãe, filhos pequenos, esposa, amigos, para acompanhar o primeiro aventureiro que o convida a deixar o torrão do berço.

Vai, e cumpre o fado, e depois cortado de saudades da terra dos verdes mares bravios, volta. Chegando, ajoelha-se, fita o céu azul da terra da luz, depois curva-se com grande reverência, beija as areias brancas da praia e exclama comovido: minha terra, como és bonita.

Tens a felicidade de ser muito amada por teus filhos. Eles são os párias do Brasil enquanto os governos quiserem. Não és tu que és ingrata; ingrato é o clima que coube na meteorologia do mundo.

Teus filhos vivem a mourejar noite e dia numa labuta sem tréguas, cobrindo-te de searas, e as vezes antes do amadurecimento dos frutos, vai-se o orvalho do céu, o sol dardeja raios de fogo, as vagens e as espigas inclinam-se das hastes, amarelecem e secam sem terem geradas as sementes. Outras vezes não é o sol que cresta as searas, é a inundação que as mata, afogando-as. Os rios, aqueles mesmos que o verão corta, fazendo no leito um rosário de poços, Assumem proporções de correntes caudais, saem do leito e vão devastando o que encontram nas margens.

Terra mãe, coube a teus filhos a sorte do ferreiro da maldição, quando tem ferro não tem carvão.

Fonte: Scenas e Typos, Rodolpho Theophilo (1919)
Jaqueline Aragão Cordeiro

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